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A economia brasileira repetiu o "vôo de galinha" previsto neste espaço editorial há mais de dois anos, quando foi adotado o modelo de combate à inflação centrado na taxa de juros sem políticas complementares para sustentar o crescimento. Agora que a realidade de um PIB modesto se contrapõe ao ufanismo oficial, é hora de reexaminar os fatores que levaram a esse fraco desempenho e que escondem situação mais grave: por não crescer há duas décadas, o país pode perder a corrida da globalização – como reconheceu o próprio presidente da República.

O Brasil cresceu à média de 7% ao ano desde o "boom" da cafeicultura, na década de 1870, até os anos 80 do século 20, mais de um século. Depois o ritmo foi progressivamente decaindo até se fixar em 2,5% nos anos do governo FHC e repetir esse desempenho modesto na média dos três anos e meio do atual período governamental. Em comparação, países emergentes como nós avançam a um índice sustentado de 6% a 10% durante uma geração, distanciando-se no horizonte. Eles foram apoiados nessa performance pelo melhor ciclo de expansão do pós-guerra, a partir das políticas de consumo e renda dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão.

Mas a janela de oportunidades está se fechando – como admitiu o presidente Lula – ante as incertezas que se acumulam no ambiente norte-americano e que já influíram nas retrações européia e japonesa. Em conseqüência, os chineses cuidam de restringir o preço da importação de matérias-primas, enquanto bancos centrais da maioria dos países ligam o radar da cautela para evitar serem pegos no contrapé.

O drama do Brasil é que não aproveitamos a boa maré para promover reformas estruturais, melhorar o ambiente de negócios, elevar a qualificação dos trabalhadores e assim por diante. Pelo contrário, a continuada majoração da carga tributária alimentou a expansão de gastos públicos e drenou a poupança disponível que, em outra circunstância teria sido transformada em investimento. A maioria dos economistas concorda não ser possível crescer mais de 1% nos dois últimos trimestres, levando ao fechamento do ano em 2,5%.

Os críticos assinalam que países no estágio do Brasil não podem ter impostos no dobro da média dos emergentes, nem se concentrar numa política monetária ortodoxa ou comércio exterior ao padrão dos industrializados. A receita de sucesso vem dos asiáticos: política industrial forte, tarifas de importação altas e controle dos capitais de curto prazo – para reforçar as forças criativas do mercado.

Enquanto não corrigirmos tais pontos, continuaremos sendo "gigantes com pés de barro". Entretanto, ao lado de fatores econômicos, sete ganhadores do Prêmio Nobel, analisando a questão nacional a pedido de uma revista semanal, destacaram as bases culturais do desenvolvimento. Citaram entre estas a funcionalidade do sistema governamental, a força das instituições e o resgate do estado de espírito de confiança afirmativa que vigorou nos séculos da formação do Brasil.

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