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A nova visita que o presidente Lula realiza à Índia, além de estreitar relações com um parceiro de importância, permitirá observar mais uma vez o acerto da estratégia indiana de desenvolvimento. Com efeito, apesar dos contrastes ainda visíveis entre o sucesso e a miséria, a Índia caminha com firmeza para o patamar dos países desenvolvidos, com crescimento de 9,4% no ano passado.

Com alguma tardança, nossas lideranças descobriram que a parceria estratégica deve ser feita com o governo de Nova Délhi, abandonando miragens ideológicas. É a Índia que conta "para explorar nossas competências recíprocas" – reconhece o subsecretário de assuntos políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe. Essa relação se estende à África do Sul, no bloco IBAS, juntando Brasil, Índia e os sul-africanos. Os três países possuem setores econômicos complementares, exibem um regime democrático saudável e detêm crescente influência em seus continentes.

Numa dimensão mais ampla, o périplo do presidente Lula guarda relação com a crescente influência dos países da Ásia de Leste e do Sul na economia mundial. "A China não deixa um segmento produtivo brasileiro em paz", reconhece o mesmo embaixador Jaguaribe. Até no Paraná, fábricas têm fechado as portas pela impossibilidade de competir com os preços baixos da manufatura oriental. O coronel Ozires Silva, fundador da Embraer, ajunta que se soubermos identificar as razões do sucesso dos indianos, chineses e outros asiáticos, não temos motivos para temer a "asianização".

O lendário empreendedor que mostrou ser possível projetar e exportar aviões comerciais fabricados no Brasil vê como lição dos asiáticos a de que não há campos reservados para povos mais adiantados: todos podem competir, desde que aprendam a inovar, tenham capacidade de adaptação e recebam o suporte de planos governamentais de qualidade. Nossa cultura latino-americana prejudica, com seu comportamento passivo que nos situa na retaguarda de outras regiões, mas ao aprender a planejar com mais prazo, boa estratégia e ações eficazes, o Brasil pode reagir ao vaticínio – garante Ozires Silva. Além da aviação, os exemplos estão à mão: tecnologia do álcool de cana, agropecuária tropical, etc.

A ênfase na integração de mercados com a Índia, caracterizada pela presença de empresários na comitiva de Lula, é um primeiro passo na ofensiva por desempenho. Outro é a relação especial em curso com a União Européia, interessada em contatos específicos com o Brasil. Após anos de negociações infrutíferas com o Mercosul, os europeus voltaram seus interesses para Brasília, cabendo-nos agarrar essa oportunidade; como Lula já procedeu em relação aos Estados Unidos após o interesse do governo Bush em parcerias a partir do etanol.

Como dizia George Washington, o primeiro presidente norte-americano, no cenário internacional as nações se movem menos por amizade do que por interesse e o Brasil terá muito a ganhar fazendo trocas vantajosas com parceiros confiáveis, também interessados em negociar conosco.

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