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Os tumultos registrados em Itaperuçu, na região metropolitana de Curitiba, onde a população destruiu prédios públicos para expressar sua revolta contra a insegurança generalizada – após o assassinato de uma adolescente durante assalto ao estabelecimento comercial da família –, refletem uma soma de problemas que se alastra pelo território do país. O inchaço das cidades maiores e de seus entornos, registrado nos últimos anos, além de comprometer a segurança das pessoas, compromete outros aspectos da vida urbana, como se verificou em São Paulo com as enchentes devastadoras desta temporada.

Tudo considerado, a qualidade de vida está sendo severamente afetada num Brasil cujo território continental precisaria expressar outras formas de povoamento, sob pena de enfrentar um colapso generalizado. Os grandes aglomerados populacionais de base urbana preocupam geógrafos e outros especialistas sobre sua viabilidade, refletindo uma era já superada em termos de organização da sociedade humana.

De fato, não há mais vantagens para as metrópoles inchadas, resultantes de movimentos migratórios derivados da industrialização pioneira dos séculos 19 e 20, como Mumbai, na Índia; Xangai, na China; Cidade do México; ou São Paulo e Rio, no Brasil. Em vez de privilegiar a dimensão das cidades, a maioria das nações evoluiu para um padrão assentado na convivência mais harmoniosa (porque melhor gerenciável) de núcleos de porte pequeno e médio, articulados em redes distribuídas pelo território.

Mas essa solução só pode ser obtida em sociedades bem resolvidas, onde a população e autoridades conseguem uma articulação capaz de assegurar a difusão espacial dos benefícios públicos, ao tempo em que desestimulam a migração do hinterland para as áreas metropolitanas. Entre nós, apesar de toda a retórica – medida da época anterior à redemocratização de 1985 –, não foram adotadas políticas públicas eficazes para evitar o êxodo que despovoou o interior e inchou as metrópoles.

Em nível imediato, a urgência é a questão da segurança. Reflexo da preocupação com o problema, os candidatos que concorreram às últimas eleições carregaram ênfase em propostas sobre o tema, constitucionalmente a cargo dos governos estaduais, mas que também precisa contar com esforços, articulados entre si, das esferas federal e municipal. Essa integração ainda é tímida, lidando mais com as conseqüências do que com as causas do problema, embora devem ser ressaltados projetos voltados para grupos sociais em desvantagem. A eles passaram a ser destinados recursos de educação, profissionalização e inclusão, que estão contribuindo para reverter a desigualdade histórica do Brasil.

Todavia, é preciso pressionar, de forma articulada e constante, para que as cidades sejam reordenadas em termos demográficos, de modo a evitar colapsos que vão da área ambiental até a de segurança. Só assim, Curitiba e outras cidades brasileiras serão resgatadas para seus habitantes, preservando os aspectos que tornam agradável viver em sociedade.

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