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É hoje o dia em que o Brasil saberá se a ruidosa CPMI dos Correios entregará ou não a enorme pizza que se previra no início de sua instalação, há nove meses. A única possibilidade de que isso não venha a ocorrer está nas mãos da pequena maioria de que dispõe o governo – cada vez mais ciosa de sua estranha e declarada missão de esconder os fatos criminosos identificados pelo comedido relatório do deputado Osmar Serraglio e de livrar de punições os acusados.

O relatório final será hoje colocado em votação no plenário da comissão – mas os governistas manifestam-se tentados, valendo-se dessa superioridade numérica, a fazer o país engolir um relatório paralelo ao gosto dos mesmos interesses escusos que patrocinaram o surgimento dos mensalões, do tráfico deslavado de influência, do uso irregular de recursos públicos e de tantas outras malfeitorias sobejamente comprovadas.

No mínimo, a base de sustentação do governo poderá fazer aprovar emendas para desfigurar as conclusões mais fundamentais do relatório original. Por fim, se nenhuma dessas hipóteses der certo, não será improvável que vejamos com tristeza o fim da CPMI sem aprovação de relatório algum – fato que, sem dúvida, dará munição à multidão cada vez maior dos que não acreditam na seriedade da classe política e na solidez das instituições brasileiras, principalmente o Congresso.

O curioso é que, para concretizar qualquer um desses intentos, valem-se os aliados do governo de métodos de cooptação de apoio, no seio da oposição, muito semelhantes aos que deram origem à própria comissão. Um senador, por exemplo, até já foi agraciado com cargos para livre distribuição entre correligionários de seu estado para que mude de lado e já tem demonstrado sua súbita boa vontade em colaborar! Imagina-se, mesmo, conforme revelou a senador petista Ideli Salvatti (SC), em "incentivar" a mudança de partido de alguns parlamentares mais maleáveis para facilitar a tarefa de assar a pizza.

Muito embora o relatório de Serraglio tenha ficado, sob muitos aspectos, muito aquém da expectativa, pois que já sofrera pressões de toda ordem para esmaecer fatos delituosos e eximir de responsabilidade alguns dos mais notórios envolvidos nos desvios éticos investigados, melhor para o país que seja ele aprovado em sua íntegra ou eventualmente aperfeiçoado – mas nunca escoimado das evidências incontestáveis e dos fatos incriminadores que coligiu.

Deve a opinião pública manter-se atenta ao que ocorrerá no dia de hoje. E devem o próprio Congresso e as organizações da sociedade civil, dentre as quais a Ordem dos Advogados do Brasil, a CNBB e tantas outras que se sintam responsáveis em lutar pela restauração da moralidade na administração pública, buscar os meios legais cabíveis para que não prevaleça a impunidade geral e irrestrita que ameaça a nação.

Não é admissível que sejamos submetidos a fiasco tão vergonhoso.

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