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Toda unanimidade é burra, diria o inesquecível Nelson Rodrigues, pleno de razão. É na diversidade e, sobretudo, no respeito e no acatamento aos diferentes que nasce a luz iluminadora das inteligências e das melhores soluções. Por isso, há muitas lições a tirar do resultado apertadíssimo da eleição presidencial do último domingo. Nas urnas, ele pode até ter "dividido" o país, mas, passada a refrega de uma extremamente virulenta campanha, a hora agora é de buscar a unidade em torno de objetivos comuns a toda a sociedade – sem que isso signifique o fim da oposição ou uma uniformidade ideológica.

Vitoriosa, já em seu primeiro discurso à nação Dilma Rousseff conclamou à união, mas fez a ressalva de que não se trata de um sinônimo de uniformidade de pensamento e ação entre as forças políticas e sociais que se digladiaram radicalmente durante a campanha. Tem razão a presidente: também nunca antes na história deste país a oposição se mostrou tão forte e ativa, de tal modo que, sim, ela deve ser levada em consideração praticamente com o mesmo peso político da estreita maioria situacionista que lhe assegurou a vitória.

A união a que Dilma se referiu, portanto, não deve ser confundida com o sepultamento do oposicionismo crítico nos grandes campos da política, das ideologias e da condução da economia, por exemplo. O bom combate precisa continuar sendo exercido para o bem da própria democracia, que sempre sairá fortalecida no jogo saudável dos pesos e contrapesos.

É elogiável a disposição ao diálogo por parte de Dilma, que não poucos consideram ter, em seu primeiro mandato, "esnobado" diversos setores da sociedade, especialmente o produtivo, demonstrando pouca capacidade de articulação. E, igualmente, é preciso ressaltar que o governador reeleito do Paraná, Beto Richa, demonstrou a mesma vontade de criar laços, após quatro anos de uma relação tumultuada com o governo federal.

Esta união que os chefes dos Executivos federal e estadual querem cultivar, entre outros aspectos, deve se dar em torno do esforço comum de viabilizar a superação dos grandes desafios que impedem o desenvolvimento econômico e social do país, especialmente no campo da infraestrutura logística. O que significa ser imprescindível a manutenção em alto nível das relações entre todos os entes federativos, principalmente entre União e estados – inclusive aqueles com governadores oposicionistas. Se é importante fazer o país avançar em projetos estruturantes, como portos, ferrovias, rodovias e energia, então que se olhe para o óbvio: estas são tarefas que nunca se concretizarão se não houver cooperação eficaz entre todas as esferas, independentemente dos matizes políticos dos que as governam.

O Paraná é caso típico. Pelo fato de os grandes projetos nacionais terem necessariamente de incluir o estado – e, neste sentido, portos e ferrovias avultam em importância –, deve-se de imediato reconhecer que, sozinhos, nem a União nem o governo paranaense serão capazes de torná-los realidade. O Paraná, além de ter um governante alinhado com as forças de oposição, impôs à presidente reeleita uma derrota esmagadora nos dois turnos, mas nem por isso o estado merece ser discriminado; um relacionamento republicano e produtivo entre presidente e governador terá resultado em favor do país e dos paranaenses. Um exemplo específico é o da nova ferrovia ligando o interior do estado ao Porto de Paranaguá, uma necessidade urgente para aumentar a competitividade do que é produzido em nosso estado e que tem tudo para sair do papel durante os segundos mandatos de Dilma e Richa.

Neste diálogo, aliás, devem estar presentes não apenas os entes públicos, mas também os setores produtivos e trabalhadores. É desta união que o país precisa. Mantê-lo dividido entre "nós" e "eles" nunca nos levará ao bom caminho.

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