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Quando da posse, a presidente Dilma Rousseff em seu discurso mandou um recado àqueles que costumam misturar as coisas públicas com as privadas. Disse ela a 1.º de janeiro passado: "Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para atuarem com firmeza e autonomia". Na teoria tudo conforme o figurino, prenunciando um comprometimento com a ética e a transparência, diferente do que se viu com seu antecessor, Lula, quando um rosário de denúncias e escândalos permearam os seus oito anos de governo. Haja vista o mensalão, apontado como o maior caso de corrupção política da história do país.

Do discurso para a prática, entretanto, não é o que se verificou já no primeiro abalo político que sofreu o governo, diante do imbróglio envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Homem forte de Dilma, ele acabou se enredando em desconfortável saia-justa para explicar o súbito enriquecimento patrimonial que experimentou desde 2006, quando assumiu o mandato de deputado federal. Em quatro anos, Palocci comprou um apartamento e um escritório na valorizada região dos Jardins, em São Paulo, por cerca de R$ 7,5 milhões os dois. Como havia declarado à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 375 mil quando eleito parlamentar, ficou difícil justificar a origem da dinheirama que permitiu as aquisições imobiliárias. Em nota distribuída por sua assessoria, informou que os recursos vieram de uma empresa de consultoria que possui. Como no período cumpriu mandato de deputado federal por São Paulo, não há como fugir da constatação de que exerceu concomitantemente o cargo político e a função de consultor, o que claramente não condiz com a postura que se exige de um homem público. Mais complicada ficou a sua situação com a nova denúncia feita pela imprensa, desta vez dando conta de que a sua empresa de consultoria havia faturado R$ 20 milhões em 2010, ano em que o atual chefe da Casa Civil coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Sem querer condenar ou absolver a priori Palocci, mas em consonância com o próprio discurso ético feito pela presidente Dilma Rousseff, era de se esperar que o governo fosse o primeiro interessado em deixar tudo em pratos limpos. Ao contrário disso, a estratégia governista parece ser a de unicamente blindar Palocci e usar o rolo compressor que possui no Congresso para frear qualquer manobra que leve à sua convocação para depor ou mesmo à instalação de uma CPI. O argumento dos líderes da situação é de que tudo não passa de factoide político produzido pela oposição e já devidamente explicado pelo ministro. Reconheça-se em Antonio Palocci um ministro-chave pela sua condição de articulador político hábil, com trânsito em todos os partidos, e respeitado dentro e fora do governo pelo tato e moderação na sua forma de agir. Tais qualidades não podem, por outro lado, servir para simplesmente passar uma borracha em eventuais deslizes que tenha cometido, em particular a utilização do cargo para abrir portas oficiais em benefício próprio e de terceiros.

Recorde-se que não é a primeira vez que o ministro se vê envolvido em situações mal-explicadas. Ainda está vivo na lembrança o caso do caseiro Francenildo, que o acusou de frequentar casa em Brasília que servia para reuniões de lobistas que mantinham negócios no governo Lula. Francenildo teve o seu sigilo fiscal violado e Palocci, então ministro da Fazenda de Lula, acabou perdendo o cargo em razão da repercussão do escândalo.

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