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A política paranaense foi agitada no último fim de semana pelas imagens contidas num DVD produzido clandestinamente em setembro do ano passado, às vésperas da eleição municipal em Curitiba. Conforme divulgado pela Gazeta do Povo, elas mostravam que, numa sala pobremente iluminada, tristes figuras faziam fila para receber dinheiro em quantia certamente insuficiente para fazer alguém transbordar de felicidade – mas vista como capaz de representar boa paga pela troca de um projeto político por outro.

Os que faziam fila diante de um dos coordenadores da campanha à reeleição de Beto Richa (à época funcionário licenciado da prefeitura) eram filiados ao nanico PRTB. Dias antes, eles haviam desistido de candidatar-se à Câmara de Vereadores para que, livrando-se dos compromissos firmados pelo próprio partido com um adversário do prefeito, pudessem livremente apoiar Richa. A interpretação corrente, apesar da aparência absurda, é de que estariam recebendo a devida paga pelo sacrifício de, renunciando aos seus projetos pessoais, manter lealdade ao prefeito.

As cenas são de fato constrangedoras, embora, na essência, não sejam muito diferentes das tantas que já escandalizaram a opinião pública por esse país afora em passado recente ou remoto. Lembre-se, a título de exemplo, o caso de Roseana Sarney em 2002, que teve de renunciar à candidatura ao governo do Maranhão após a divulgação de imagens de dinheiro em espécie – mais de R$ 1 milhão – em seu comitê de campanha. Lembre-se, também, de Maurício Marinho, o diretor dos Correios embolsando uma propina de míseros R$ 3 mil para facilitar a irrigação de recursos para o PTB do ex-deputado Roberto Jefferson e alimentar o esquema do mensalão. Ou, ainda, para encerrar logo esse desfile, lembre-se das cuecas recheadas de dólares de um político do PT cearense durante a campanha que reelegeu Lula à Presidência da República, em 2006.

Note-se que flagrantes como esses não escolhem o nível dos protagonistas, os valores envolvidos nem a importância dos contextos políticos em que ocorreram. Mas há uma clara e inequívoca ligação entre todos os fatos. A uni-los, realmente, está a revelação do modus operandi das campanhas políticas que se fazem no país: há nelas geralmente dinheiro ilegal ou mal explicado, quase nunca opção por causas de interesse público, defesa de políticas, adesão a programas partidários, escolhas ideológicas.

Se não há dinheiro, há vantagens em torno das quais se deve ficar à espreita. Há cargos a serem repartidos; há postos estratégicos nas estruturas governamentais a serem ocupados; há diretorias poderosas em estatais; há licitações a serem realizadas; obras a serem distribuídas entre empreiteiros generosos; empregos para parentes e amigos fantasmas. E por aí vai essa visão dantesca e indigna dos produtos que constituem insumo básico da política e das campanhas eleitorais no Brasil.

Serve este quadro – nunca nos esquecendo das tristes figuras do PRTB curitibano – para reforçar a ideia de que os responsáveis, isto é, os Poderes constituídos da República, devem à nação a mãe de todas as reformas, uma reforma política séria que nos livre dos males da política rastaquera que nos domina. Política de verdade é outra coisa: é produto de decisões que promovam o desenvolvimento e a segurança de uma sociedade. Não é mais possível nem imaginável que tenhamos de aturar a repetição interminável de maus exemplos. Não são dignos nem da honestidade e da credulidade do povo brasileiro e nem, muito menos, estão à altura do que o país merece.

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