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É preocupante a notícia de que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – a autarquia responsável por gerir obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – tem uma infraestrutura deficiente para conseguir desempenhar suas atribuições. Para se ter ideia do tamanho do problema, embora tenha a responsabilidade de controlar um orçamento de R$ 15 bilhões investidos em obras do programa que é a "menina dos olhos" da presidente Dilma Rousseff (PT), o Dnit possui em seus quadros apenas sete auditores.

As dificuldades estruturais do órgão são enormes. Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, na edição do último domingo, dá conta de que o Dnit possui 2.695 funcionários de carreira. Entretanto, a autarquia precisaria hoje de 6.861 servidores em seus quadros. Ou seja, para o pleno funcionamento do controle de obras do PAC geridas pelo Dnit é necessário o ingresso de 2,5 vezes mais funcionários do que o número existente hoje.

A situação de precariedade do órgão não diz respeito somente à falta de servidores. Há ainda o grave problema do perfil pouco técnico dos funcionários do órgão. A estimativa é de que seriam necessários cerca de 3 mil engenheiros trabalhando hoje no Dnit para dar conta da demanda. Entretanto, a autarquia conta com apenas 800. Além disso, o órgão tem 1.375 servidores de nível técnico e apenas 792 de nível superior.

A carência de recursos humanos de perfil técnico nos quadros do órgão é grave e pode piorar nos próximos anos, caso não haja atenção do governo federal em busca da modernização do órgão e a realização de concursos públicos para cobrir o déficit de pessoal. Isso porque a aposentadoria de funcionários pode reduzir em 43% o número de servidores até 2015. Em áreas técnicas, como o Instituto de Pesquisas Rodoviárias, responsável pelo aprimoramento de técnicas e procedimentos da autarquia, o quadro será reduzido em 71% nos próximos três anos. Isso significa que, caso não haja concurso público, o órgão terá 1,5 mil funcionários.

O pedido da direção do órgão para que fosse aberta seleção de 1.088 servidores até 2015 não foi atendido. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, chegou a concordar em abrir 500 vagas. Entretanto, o plano está suspenso.

A falta de corpo técnico para a fiscalização nas obras de infraestrutura do Dnit abre brechas para a corrupção, problema histórico da autarquia. Basta lembrar que, em setembro de 2011, a Controladoria-Geral da União detectou irregularidades no Ministério dos Transportes que totalizaram prejuízos potenciais de R$ 682 milhões, num universo de R$ 5,1 bilhões fiscalizados.

No que se refere mais especificamente ao Dnit, o relatório da CGU declarava que eram raros os empreendimentos em que não havia acréscimo de custos, com o uso de aditivos contratuais, muitas vezes superando o limite legal de 25%. Em somente uma única obra, no lote 7 da BR-101, em Pernambuco, foram constatadas indícios de 14 diferentes tipos de irregularidades que geraram prejuízos de cerca de R$ 53,8 milhões, decorrentes de deficiências no projeto executivo, superestimativas de serviços de terraplenagem, superfaturamento e pagamento de serviços não realizados.

Para mudar esse quadro, reduzir problemas em obras e combater a corrupção, o que se espera é que o governo federal trace um plano claro de reformulação do Dnit, com o aumento de seu corpo técnico. Medidas dessa natureza irão evitar que o dinheiro público planejados para o PAC seja desperdiçado.

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