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Na coluna publicada no último sábado (17/04), nesta Gazeta do Povo, o jornalista Rogerio Waldrigues Galindo destacou a apatia da sociedade paranaense – que não é diferente da apatia da sociedade brasileira como um todo – e assim iniciou o seu texto: "Me incomoda profundamente o silêncio em torno do escândalo da Assembleia. As denúncias estão aí. O escândalo, na minha opinião, é o maior da história política do Paraná. A imprensa bate na tecla todos os dias. E cadê a mobilização popular?...".

A situação é realmente preocupante. Parece-nos que, muito além da política, também a cidadania se encontra em profunda crise. A população parece cansada de tantas denúncias e, descrente no "sistema", parece, por vezes, ter simplesmente desistido. São cada vez mais frequentes e comuns afirmações tais como: "não adianta, isso nunca vai mudar!"; "são todos iguais!"; "ele renuncia agora, mas já se elege na próxima eleição!"; dentre outras tantas.

Mas a questão é: se todos desistirmos, quem continuará a fiscalizar e a acompanhar o mandato daqueles que deveriam ser os representantes do povo? As empreiteiras investigadas nas operações Castelo de Areia, Caixa-Preta e Boi Barrica e que sempre figuram no topo da lista das maiores doadoras das campanhas eleitorais? Os detentores de cargos em comissão? Os funcionários fantasmas? Ora, é evidente que todos temos as nossas preocupações e os nossos afazeres diários com a família, com o emprego, com a atividade profissional, com a saúde e assim por diante. Preocupações e afazeres importantes que, muitas vezes, consomem quase todo o nosso tempo e fazem da nossa vida uma grande correria. Isso sem falar daqueles que, em precaríssimas condições, nem mesmo vivem, mas apenas sobrevivem em um país de tantas injustiças e de tantas desigualdades.

Nesse cenário, a participação política pode parecer algo distante e de menor importância. Mas os reflexos da não participação são evidentes e podem ser sentidos todos os dias. Pagamos, por exemplo, uma enxurrada de impostos e contribuições. O que temos recebido em troca? Estamos satisfeitos com a situação da educação, da saúde e da segurança? A resposta é certamente negativa.

O fato é que a nossa memória é curta. Poucos meses após a ida às urnas, muitos de nós não mais conseguimos dizer nem mesmo o nome dos candidatos em quem votamos. Diante disso, falar em fiscalização de mandato e cobrança de promessas de campanha soa como algo absolutamente irreal.

Como, então, podemos estimular a participação da sociedade? Poderíamos participar de várias formas, mas talvez um dos mais eficientes estímulos para a nossa participação seja o de contribuirmos financeiramente com aqueles que, na nossa avaliação, mereçam o voto.

Como assim? Deveríamos dar ainda mais dinheiro a políticos? De algum modo, sim. Recentes matérias publicadas na imprensa revelam que os candidatos não esperam muito de doações realizadas por pessoas físicas e, nesse grupo (de pessoas físicas), esperam menos ainda de doações realizadas pela internet.

Pois bem, deveríamos surpreendê-los. Aproveitando as facilidades da tecnologia e seguindo o exemplo dos Estados Unidos, onde mais da metade do valor da campanha do então candidato democrata à Presidência Barack Obama foi arrecadada pela internet, deveríamos todos doar. E a importância não estaria, definitivamente, no valor da doação, mas sim no simbolismo do ato.

A doação poderia ser de apenas R$ 1, pois o importante não seria, como já dito, o valor doado, mas sim o simples recibo da doação. Isso mesmo. Que o recibo da doação funcione como um remédio para a nossa curta memória e que nos ajude ao menos a recordar os nomes daqueles nos quais depositaremos, mais uma vez, a nossa confiança e a nossa esperança. Que o nome do beneficiário estampado no recibo nos estimule, de alguma forma, a participar do mandato do representante eleito. Que nos permita acompanhar os posicionamentos nas votações, encaminhar um e-mail ou uma carta, criticar, sugerir, dar ideias etc.

Ora, se as doações por parte de pessoas físicas e pessoas jurídicas (não as empreiteiras das obras públicas!) se intensificarem e se, como consequência, gerarem um maior envolvimento da sociedade com as questões políticas, uma reforma política poderá acontecer de forma natural. Uma reforma que não partirá do Legislativo, mas sim da própria sociedade. Uma mudança que poderá acontecer, portanto, "de fora para dentro".

Não podemos mais esperar pela boa vontade dos nossos "representantes". Não podemos mais esperar por uma reforma política que parta da mente e do estilo dos atuais e tradicionais ocupantes das nossas casas legislativas.

Assim, já para as próximas eleições, precisamos eleger pessoas melhores. Precisamos eleger pessoas mais dignas, mais honestas, mais capacitadas e, principalmente, pessoas com um verdadeiro espírito público. Precisamos estar convencidos de que a escolha correta dos candidatos e um mínimo de participação política serão sempre as melhores armas para o fortalecimento das instituições e para a construção de um verdadeiro Estado Democrático de Direito.

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