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Organizadores e convidados da 10.ª edição do Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, falam com certo orgulho que o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos (Suíça), não é mais o mesmo. A premiação concedida ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, seria um sinal dessa mudança. Lula recebe o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico e falará em seu discurso de todas as conquistas sociais brasileiras e sobre a forma como seu governo enfrentou a crise mundial. Já foi o tom usado em sua participação no Fórum Social, na terça-feira.

Mas o Fórum Social Mundial também já não é mais o mesmo. Ele nasceu em 2001 como um espaço de discussão da sociedade civil em contraponto à ordem econômica mundial, chamando a atenção para problemas sociais negligenciados no discurso da maior parte dos chefes de Estado presentes em Davos. Poderia ser considerado um encontro isolado da chamada esquerda mundial, mas ganhou importância por pluralizar o debate e por impulsionar a inclusão de assuntos sociais na agenda geopolítica.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano disse, na época, que "los gauchos del Brasil están poniendo incómodos a los señores de Davos". O sociólogo e professor da Universidade de Coimbra (Portugal) Boaventura de Sousa Santos afirmou, no ano seguinte, que o Fórum significava "o movimento contra a globalização neoliberal e a favor de uma globalização alternativa, solidária, pautada pelo respeito da dignidade humana."

O tom de polarização perdeu força e o Fórum Social hoje está longe de ser uma ilha de resistência econômica generalizada. O economista Paul Singer declarou, por exemplo, que o Fórum Econômico Mundial de Davos não é "uma reunião de demônios". Já Chico Whitaker, um dos idealizadores do Fórum Social, preferiu dizer que a homenagem a Lula "é um sinal de que Davos mudou".

O fato é que os 20 chefes de Estado convidados oficialmente para o Fórum Social estão com um discurso mais pacificador, tentando dar menos importância a que se diz na Suíça e relativizando o perfil dos "adversários". Davos, por sua vez, dá mais valor para países emergentes, que ganharam importância no cenário mundial, especialmente Brasil, Índia e China.

É muito saudável que o tom extremista tenha dado lugar à tolerância e à aproximação, elementos fundamentais para que o mundo possa planejar um futuro sem as amarras dos radicalismos.

No entanto, o Fórum Social não deve abrir mão da prerrogativa de apontar caminhos alternativos para os problemas do mundo, de ser um espaço prioritário da sociedade civil, de chamar a atenção de todos para as injustiças. Para isso, é essencial que não se deixe apropriar por interesses do jogo político. Suas primeiras edições, é bem verdade, foram realizadas em Porto Alegre porque ali se obteve parte do financiamento da prefeitura da capital gaúcha e do governo do estado, na época com mandatos petistas.

Mas o Fórum foi além e se apresentou como um evento de grande peso para os questionamentos sociais, uma vocação que está em risco com a tentativa de políticos que procuram fazer do grande encontro uma oportunidade para ala­­vancar candidaturas ou defender governos ar­­bitrários. Neste ano eleitoral, a presença de candidatos no Fórum Social cresceu significativamente. Cabe aos demais participantes do en­­contro não deixar que eles dominem a agenda e roubem tempo de discussões que precisam da máxima pluralidade.

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