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| Foto: Anthony Kwan/Bloomberg

Nas últimas semanas, a China esteve no topo dos noticiários internacionais principalmente em razão das disputas comerciais com os Estados Unidos. O governo Trump resolveu elevar o tom contra as importações da China sob o argumento de que os EUA estão perdendo empregos internos pelo fechamento de fábricas que não conseguem competir com os produtos importados. Embora o Brasil também tenha sido afetado pelo anúncio do governo norte-americano de que pretende tributar o aço e o alumínio, a parcela maior da guerra protecionista envolve norte-americanos e chineses. Entretanto, a razão da proeminência da China nos noticiários não deriva somente dos problemas de taxação de importações e competição dos produtos chineses nos mercados dos EUA. Há outros motivos que fazem a China ser olhada com especial atenção pelo mundo.

A renda anual por habitante nos EUA é de US$ 55 mil, na China está perto de US$ 15 mil e no Brasil não passa dos US$ 10 mil. A previsão é de que a renda média por pessoa na China passará de US$ 25 mil nas próximas três décadas, para uma população atual de 1,38 bilhão, contra 325 milhões dos EUA e 208,8 milhões do Brasil. Se o produto por habitante na China atingir a metade dos EUA, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês em 2050/2060 será o dobro do PIB norte-americano – produto por habitante e renda por habitante são dois lados da mesma moeda, logo, ambos têm o mesmo valor. A questão essencial é descobrir as razões pelas quais a China, cuja pobreza já foi maior que a brasileira, está conseguindo crescer e melhorar sua renda muito mais rapidamente que o Brasil. Vários fatores explicam o fenômeno, mas há dois que são decisivos nas diferenças entre China e Brasil: a taxa de investimento como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e a produtividade total dos fatores (PTF).

O Brasil segue fechado para o mundo e tem um baixo grau de abertura ao exterior

Em relação à taxa de investimento – aquela parcela do PIB composta de bens de capital destinados a expandir a infraestrutura física, a infraestrutura empresarial e a infraestrutura social –, no Brasil ela foi de apenas 15,6% do PIB em 2017, a mais baixa taxa desde 1996, enquanto na China chegou a 40%. A economia chinesa está construindo cidades, fábricas, máquinas, equipamentos e uma gigantesca infraestrutura física, e dotando o país de uma base produtiva capaz de levar a renda por habitante até o equivalente à metade da renda dos EUA. No Brasil, a principal razão pela qual a taxa de investimento é baixa está no fato de que o sistema estatal em todos os níveis gasta 41% do PIB brasileiro, dos quais apenas 2,5% em investimentos. Ou seja, prefeituras, estados e União não têm capacidade de investir, pois gastam quase tudo que arrecadam em salários e custeio de serviços públicos, comportamento que leva à falta de investimentos e dificulta o crescimento do PIB.

O segundo elemento determinante do crescimento do PIB é o que os economistas chamam de “produtividade total dos fatores” (PTF), que é a quantidade de produto por unidade de fator de produção (capital, trabalho e recursos naturais). O aumento da PTF requer elevação da produtividade do trabalho (quantidade de produto por hora de trabalho humano) e elevação da produtividade do capital (quantidade de produto por unidade de máquinas, equipamentos e outros bens de capital). Nesse sentido, a mão de obra precisa aumentar o nível educacional e melhorar a qualificação profissional, enquanto o capital necessita incorporar as novas tecnologias inventadas ao redor do mundo. Os chineses estão investindo maciçamente nessa direção e adotando cada vez mais princípios e bases capitalistas em sua economia, ainda que mantendo um regime de ditadura política. Enquanto isso, o Brasil – que não tem um capitalismo moderno e em nenhum momento foi liberal ou neoliberal – segue fechado para o mundo e tem um baixo grau de abertura ao exterior.

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A China não é mais um país comunista puro aos moldes antigos; politicamente, sim, continua a ser um regime ditatorial, de partido único, que governa com mão de ferro e persegue qualquer dissidência. Mas seu regime econômico já não reproduz o que era o comunismo clássico. O progresso chinês tem bases capitalistas, abertura internacional e forte absorção de tecnologias estrangeiras. Nesse aspecto, o Brasil é hoje um país mais fechado que a China. Recentemente circularam informações sobre a revolução que os chineses estão fazendo na construção civil, essencialmente com técnicas construtivas e tecnologias de materiais vindas do exterior. Se quiser acelerar o crescimento e superar a pobreza, o Brasil precisa, no mínimo, de um choque de capitalismo, maior abertura ao exterior, aumento da taxa de investimento, aumento da produtividade, revolução no sistema educacional e saneamento das contas públicas.

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