• Carregando...

Em tempos de elevado crescimento econômico, é comum que governos sejam bem avaliados pela população, independentemente do comportamento dos seus governantes ou das ações realizadas por suas equipes. Ao mesmo tempo, é também cada vez mais verdade que em períodos de bonança econômica a população prefere ignorar os atos dos governos. Essas relações entre resultados econômicos, avaliação de governantes e interesse pela prática política é uma regra da qual o Brasil não escapa.

O atual boom da economia brasileira faz com que governantes sejam bem avaliados, mas faz também com que apenas uma pequena parcela da população se preocupe em analisar os atos governamentais e a sua influência para o bem-estar do país. Ou seja, avaliam o governo bem, porque as condições econômicas estão melhores que no passado, mas não conseguem indicar decisões dos administradores públicos que tenham contribuído para os resultados que consideram positivos.

Levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas e publicado pela Gazeta do Povo na última segunda-feira mostrou que após oito meses de gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) no governo federal e do governador Beto Richa (PSDB) na administração estadual, ambos possuem ampla aceitação da população paranaense. Mais da metade dos entrevistados aprova suas administrações, 80% deles consideram as gestões regular, boa ou ótima. Porém mais de 70% dos que responderam à pesquisa não sabem elencar as realizações de Dilma e de Beto neste período de governo.

Pode-se argumentar que pouco tempo passou desde as eleições do ano passado para que a população pudesse ter em mente as políticas públicas que vêm sendo implementadas pela presidente e pelo governador. Mas o fato é que o contexto de prosperidade tende a resultados positivos na avaliação de administrações, ao mesmo tempo em que conduz ao desinteresse da população pelas decisões dos governantes. Apenas uma pequena parcela da população permanece vigilante, atenta às decisões do governo na alocação de recursos e investimentos públicos. São poucos os que concentram sua atenção sobre a eficiência da gestão de políticas públicas e a relaciona às administrações de governantes.

Preocupações dessa natureza somente passam verdadeiramente a ocorrer quando os ciclos de bonança chegam ao fim e cedem lugar a crises econômicas. É aí, então, que um porcentual maior da população passa a se interessar pelas decisões e procedimentos adotados por quem os governa.

Em tempos de crise, a tolerância da população a erros dos dirigentes públicos tende a ser reduzida. O senso crítico aumenta. Os políticos passam a ser considerados culpados da situação do país. E, então, atitudes que antes se ignoravam, que antes não eram alvo de críticas, passam a ser objeto de julgamento severo.

Essa oscilação de comportamento da sociedade não traz benefícios às instituições democráticas num longo prazo. De um lado, a acomodação e o otimismo em tempos de êxito econômico. De outro, a crítica severa e a indignação em tempos de crise. Para o desenvolvimento de uma cultura democrática, em que se privilegia o debate das questões públicas, o ideal está longe desses extremos. Uma mudança de comportamento da população é necessária, para que haja uma atenção constante da população às atitudes dos governantes, sem se deixar levar por mudanças de humor condicionadas excessivamente pela economia. Até porque ciclos econômicos de desenvolvimento e geração de riqueza sempre podem acabar dando lugar a períodos de retração econômica. Nunca é demais lembrar que, apesar da economia brasileira estar se saindo bem, neste momento o mundo se vê abatido por mais uma etapa da crise mundial iniciada em 2008.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]