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Ao mesmo tempo em que continua com a queda de braço com os partidos da base aliada – em particular o PMDB – insatisfeitos com o que lhes coube na partilha dos cargos até agora, o comando político da presidente Dilma Rousseff corre contra o tempo. A razão de tanta pressa está na proximidade da eleição para a composição da nova mesa diretora da Câmara dos Deputados, marcada para 1.º de fevereiro próximo. Em meio à aparente calmaria do recesso parlamentar, trava-se nos bastidores uma surda disputa pela presidência da Casa, situação em que o governo pode acabar como o grande derrotado. O puxão de tapete está sendo articulado pelos próprios aliados, que, descontentes com o fato de o PT abocanhar até aqui a melhor parte do bolo, ensaiam lançar um candidato para disputar a presidência contra o deputado Marco Maia (PT-RS), apoiado pelo Partido dos Traba­­lhadores.

Seria a repetição do chamado "efeito Severino", quando em 2005, numa virada de mesa surpreendente, o chamado baixo clero, formado por deputados de pouca expressão na Casa, acabou elegendo o pernambucano Severino Cavalcanti (PP) presidente. A derrota do governista e favorito Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) foi um duro golpe para o então presidente Lula e o seu partido; escaldados, os petistas não querem passar pela mesma situação em 2011, sendo obrigados a ver na presidência alguém contrário a seus interesses. Recorde-se que no mesmo ano em que foi eleito para presidir a Câmara, Severino foi obrigado a renunciar ao mandato de deputado por conta de denúncias que o envolviam num esquema de pagamento de propina. O caso conhecido por "mensalinho" foi revelado pelo dono do restaurante da Câmara, que pagava ao deputado a importância de R$ 10 mil mensais para manter aberto seu estabelecimento. Seu substituto na presidência da Casa foi Aldo Rebelo (PC do B), justamente um dos parlamentares agora cotados para o bate-chapa com o candidato do governo Marco Maia

Ainda que consiga contornar o imbróglio e eleger seu candidato, promete não ser fácil a vida da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. O apetite por cargos e mais poder manifestado pelos aliados está deixando o governo acuado, situação que pode levar à aprovação de matérias contrariamente à orientação do Planalto. É o caso do novo salário mínimo, que por medida provisória foi fixado em R$ 540. Agora, em virtude da insatisfação reinante, o PMDB ameaça apoiar proposta de elevá-lo para R$ 580, com o que não concorda a equipe econômica do governo, em razão dos reflexos negativos nas contas da Pre­­vidência.

Em resumo, a crise instaurada coloca à prova, já nos primeiros dias de mandato, a capacidade de articulação da presidente Dilma, confrontando-a inevitavelmente com a de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Na condição de principal articulador político, o ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, vai ter de fazer uso de todo seu repertório de argumentos para acalmar os insatisfeitos e evitar danos ainda maiores ao governo no Congresso. Diante das queixas e lamentos, nem mesmo a presença do peemedebista Michel Temer na vice-presidência da República está sendo suficiente para frear os ânimos dos descontentes.

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