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Pelo menos 2 milhões de estudantes das escolas públicas e privadas do Paraná estão tendo suas férias prolongadas em razão da medida de suspensão das aulas tomada pelo governo ou por iniciativa dos próprios estabelecimentos. É o retrato pronto e acabado do medo-pânico que contaminou a população, alarmada além dos limites razoáveis com a proliferação da gripe suína – ou da gripe A, como politicamente mais correto é denominá-la para não estender seus prejuízos ao setor da carne – e com o suposto elevado índice de letalidade provocado pela nova doença.

É compreensível que as autoridades públicas e diretores de escolas tenham tomado tal providência. Trata-se de uma cautela, que pode revelar-se exagerada, mas da qual não poderiam fugir dado o crescente clamor da opinião pública, que certamente os culparia se, mantida a normalidade do ano letivo, a gripe aumentasse a velocidade com que se espalha. Em nota oficial, o governo do estado faz ponderações neste sentido, levantando dúvidas sobre a eficácia da medida que ele próprio tomou e lembrando com propriedade que outras situações de aglomeração de pessoas jamais poderão ser suspensas em razão da gripe. Caso, por exemplo, do transporte coletivo.

Na verdade, todos os dados disponíveis até agora, no Brasil ou em quaisquer outros países onde se registra a presença da doença, levam à conclusão de que não há racionalidade no pavor que se criou: a taxa de mortalidade da gripe suína é comparativamente muito menor do que a verificada em relação à gripe comum. A Secretaria Estadual da Saúde lembra que, no ano passado, morreram no Paraná quase 2.400 pessoas vítimas de gripe comum e pneumonia, ao passo que a nova doença fez, desde que foi detectada no estado há cerca de dois meses, quatro mortes. Ademais, como instrui o Ministério da Saúde, os cuidados que devem ser tomados com uma das modalidades da doença são exatamente os mesmos aplicáveis à outra – o que inclui o uso também do mesmo medicamento.

Entretanto, a população insiste em adotar cuidados que geralmente não toma quando de surtos gripais comuns. O uso de máscaras (ineficazes para prevenção, só devem ser usadas por pessoas já infectadas) e a higienização das mãos com álcool gel (lembremos que a preferência deve ser dada à lavagem com água e sabão) fizeram com que tais produtos desaparecessem do mercado. São úteis e necessários? São, da mesma forma como o são como métodos de prevenção para quaisquer moléstias contagiosas pelo contato interpessoal.

Há quem culpe a imprensa – ou a mídia, como mais se fala atualmente – pelo clima de pânico, quase uma paranoia, que se alastrou. Não é verdade. Nada mais fizeram (e seguem fazendo) os veículos de comunicação do que reproduzir o tom com que os organismos internacionais de saúde (cite-se especificamente a Organização Mundial da Saúde) e os governos manifestaram-se sobre a doença a partir dos primeiros dias em que foi detectada, no México.

De fato, houve, sim, o surgimento de uma nova cepa de vírus causador de gripe, cuja morbidade era ainda desconhecida das autoridades sanitárias. Por precaução, e diante de experiências recentes como o caso da gripe aviária, a OMS recomendou redobrar os cuidados para que a doença fosse contida. Passados já alguns meses de seu aparecimento, e diante das observações quanto ao comportamento da nova gripe, as recomendações já estão voltando ao nível das medidas comuns, de comprovada eficácia – o não que significa que as pessoas, a qualquer espirro, devam imediatamente procurar os hospitais e postos de saúde – aliás, algo recomendável apenas quando da persistência dos sintomas e por se situar o doente em condição de risco, como os diabéticos, hipertensos, crianças de tenra idade ou idosos.

É evidente que não se prega o desleixo. Pelo contrário, todos as medidas preventivas devem ser tomadas pela população e pelas atuoridades, especialmente as da saúde pública. Não é razoável, contudo, a desorganização das atividades necessárias e imprescindíveis da vida em sociedade. O cuidado que a ocasião exige não deixa espaço para a negligência, mas também não combina com o pânico que imobiliza.

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