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O documento aprovado pela Executiva Nacional do PSDB, intitulado “Princípios e valores para um novo Brasil”, demonstra que o partido pode ter abandonado a estratégia “do quanto pior, melhor”, mas não deixou de lado a abordagem eleitoreira com vistas à 2018. Nem mesmo a gravidade da crise pela qual passa o país parece sensibilizar a cúpula tucana da necessidade de unir as forças políticas para compor uma agenda factível para destravar o Brasil.

Sob o pretexto de estar dando uma “contribuição para tirar o país da crise”, a carta contém 15 condições para que o partido venha a apoiar um eventual governo de Michel Temer. E se os pontos propostos forem levados a “ferro e fogo”, o documento deixa margem para uma saída do governo assim que as circunstâncias forem convenientes e oportunas.

Parte substancial das propostas seria endossada em sã consciência por qualquer brasileiro. Sugere, por exemplo, medidas como educação para a cidadania, melhorias na saúde, combate à inflação com preservação do poder de compras dos salários e simplificação “radical” do sistema tributário, com uma redistribuição de carga mais justa. Isso sem falar no “combate irrestrito à corrupção”, no apoio a Operação Lava Jato e a órgãos de controle como CGU e TCU.

O PSDB quer também que, em regime de urgência, seja apresentada uma agenda de reformas estruturais para que o país volte a ser competitivo e que recupere as agências regulatórias. Em alguns casos, exige que as propostas sejam cumpridas em tempo recorde – deseja a apresentação de “um conjunto de medidas para a recuperação do equilíbrio das contas públicas” em no máximo 30 dias. E, para realização imediata, quer uma reforma política que priorize cláusula de barreira, voto distrital misto e fim das coligações proporcionais.

São todas medidas importantes para o país. O curioso, entretanto, é a maneira como o PSDB o faz. O volume de medidas beira o impossível de se realizar em tão pouco tempo. Não parece levar em conta que o novo governo será de um mandato tampão, que terá pouco mais de dois anos, se confirmado o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Algumas das medidas propostas – como as necessárias reformas tributária e política – não foram levadas a cabo pelos governos das últimas duas décadas. Mesmo assim, os tucanos acham por bem estabelecer prazos, por vezes exíguos, sem dizer o que farão se o governo não cumprir o estabelecido.

Ninguém tem dúvidas de que o país precisa de reformas. O que se questiona é a possibilidade de medidas como essas passarem sem uma forte costura do governo com aliados no Congresso, base essa que o PSDB não deixa claro se faz parte.

Assumindo essa postura, o PSDB desconstrói o discurso adotado pelo líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy, que, em fevereiro deste ano, reconheceu o erro da bancada em apoiar o fim do fator previdenciário – aprovado na Câmara – e outros projetos com impacto nas contas públicas. Na ocasião chegou a dizer que não cabia à oposição “fazer coisas malucas” e que o partido tinha defendido pautas que eram “fisiológicas e corporativas”. Admitiu também que o partido acabou por cometer um erro danoso.

Reconheça-se, os tucanos deixaram realmente de lado a tática do “quanto pior, melhor” pela qual foram acusados com razão no início do ano. O documento da Executiva do PSDB demonstra que passaram a adotar um comportamento diferente. Na aparência é propositivo. Mas, na sua essência, ambíguo. O partido apresenta condicionantes que torna difícil não serem vistas como eleitoreiras, abrindo caminho para, desde o início, a legenda não participar de um esforço de união para um projeto nacional. É uma pena que neste momento o PSDB confunda oportunismo com senso de oportunidade para destravar o país. Na melhor das hipóteses, o documento é um texto ambíguo. Na pior, um lance ardiloso e irresponsável.

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