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Quando alguém deixa de lado o papel de torcedor e se transforma num agressor capaz de chegar às últimas consequências, inclusive matar, é chegada a hora de fazer alguma coisa

As torcidas organizadas Mancha Alviverde (Palmeiras) e Gaviões da Fiel (Corinthians) estão proibidas de ingressar uniformizadas nos estádios de São Paulo. A medida é consequência dos conflitos generalizados protagonizados por torcedores das duas equipes no último domingo, resultando na morte de dois palmeirenses, persistindo até a apuração final dos fatos. Decadente dentro e fora do campo, fruto de administrações ruinosas dos clubes e das federações, o futebol brasileiro também sofre com o fenômeno crescente da violência, resultado do desequilíbrio social que grassa no país.

Em particular os chamados clássicos regionais se revestiram nos últimos anos de um explosivo potencial de intolerância, que comumente termina em verdadeiras brigas campais entre facções rivais nas arquibancadas e nas ruas. Assistir a uma partida de futebol com a camisa do clube da preferência virou uma opção de alto risco, que pode terminar em agressões e até em mortes, como ocorreu no domingo último em São Paulo. A situação não é diferente por aqui, em particular em dias de Atletiba, quando a rivalidade sadia há muito deu lugar à violência e à baderna. Brigas entre torcedores e depredação generalizada de próprios públicos são uma constante, ainda que ações policiais ocorram antes, durante e depois das partidas.

Diante de tantos e repetidos tumultos que vêm marcando negativamente o futebol brasileiro pergunta-se: o que de efetivo foi ou está sendo feito para se pôr um paradeiro nesse estado de coisas? Pela constância das ocorrências, lamentavelmente é forçoso reconhecer que as providências até agora tomadas podem ser qualificadas como meramente paliativas e aquém das reais necessidades. Quando alguém deixa de lado o papel de torcedor e se transforma num agressor capaz de chegar às últimas consequências, inclusive matar, é chegada a hora de fazer alguma coisa, e isso com a máxima urgência.

A começar pela aplicação de punições severas que desestimulem o sentimento de impunidade que demonstra hoje o marginal travestido de torcedor. Aliás, uma proposta sempre lembrada no dia seguinte ao da ocorrência desses tumultos é a da extinção sumária das torcidas organizadas, reconhecidas como focos geradores de intolerância. É o que vem ocorrendo agora em São Paulo, onde uma força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público foi composta com o objetivo de reunir evidências que levem ao banimento definitivo das organizadas das competições oficiais. Uma empreitada difícil sem dúvida, mas factível de ocorrer se não existir outro caminho. Na Europa, com um histórico de violência no futebol, vale lembrar dos hooligans na Inglaterra, a violência rotineira foi debelada graças a um esforço conjunto das instituições públicas juntamente com a esfera esportiva.

O Brasil prepara-se para ser a sede, em 2014, da próxima Copa do Mundo, quando torcedores dos vários cantos do planeta para cá virão com a finalidade de torcer por suas seleções. Desde já, adotar medidas que resgatem para o futebol a esportividade perdida e garantam aos aficionados o direito de assistir a uma partida e torcer sem riscos pessoais é uma medida que se impõe. Esse é um objetivo que interessa não apenas a São Paulo, mas a todos os estados onde o futebol está deixando de ser esporte para virar uma guerra.

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