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A maioria dos curitibanos desaprova a realização da Copa do Mundo na cidade. Levantamento da Paraná Pesquisas divulgado na terça-feira pela Gazeta do Povo revelou que 57,5% dos entrevistados são contra o evento, enquanto 38,7% são a favor. Desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2011, é a primeira vez que a reprovação supera a aprovação. A publicação dos resultados coincidiu com a visita do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, a Curitiba; a reação do presidente do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia, e a do secretário estadual da Copa, Mario Celso Cunha, mostrou que os responsáveis pela Copa na capital paranaense parecem não ter nada substancial para dizer aos curitibanos.

Petraglia e Cunha competiram para descobrir quem daria a "não resposta" mais esdrúxula aos números. O cartola limitou-se a atacar o instituto Paraná Pesquisas e questionar sua credibilidade, num exemplo acabado da falácia ad hominem, que consiste em desqualificar o portador da mensagem para desviar a atenção de seu incômodo conteúdo. Já para o secretário, a oposição à Copa não passa de birra de quem não conseguiu ingressos. "Os 42 mil torcedores com ingressos garanto que não foram pesquisados. O 1,8 milhão, que são os habitantes de Curitiba, estes talvez foram pesquisados e, por estarem revoltados por não conseguirem ingressos, estão contra a Copa", afirmou. Ninguém se dispôs a realmente analisar os motivos da frustração do curitibano.

Há dois bons motivos para trazer um evento como a Copa do Mundo (ou qualquer outra grande competição esportiva, como os Jogos Olímpicos) a um país como o Brasil, onde os gastos com a organização competem com diversas outras prioridades muito mais relevantes para a população, como investimentos em educação e saúde. O primeiro deles é a construção de um legado urbanístico e de infraestrutura que beneficie a população por muito tempo depois do encerramento do evento. O segundo é a atração de turistas-torcedores que, com suas despesas, movimentarão nos setores hoteleiro, gastronômico, de comércio e serviços uma quantidade de dinheiro que não circularia em circunstâncias normais. Essas pessoas, depois, ainda poderiam retornar ou recomendar o Brasil e Curitiba a parentes e amigos, incentivando ainda mais o turismo.

Quanto ao primeiro aspecto, infelizmente o legado acabou reduzido ao mínimo necessário para evitar grandes transtornos a quem vem de outras cidades para assistir aos jogos. É uma pena que obras essenciais como a ampliação do Aeroporto Afonso Pena e a reforma da Rodoferroviária tenham precisado do pontapé da Copa para serem realizadas, pois fica a impressão de que, se não fosse pelo Mundial de futebol, elas não sairiam do papel. Mas, como a Gazeta do Povo mostrou em inúmeras ocasiões, dos vários projetos de mobilidade urbana previstos quando Curitiba se candidatou a receber jogos da Copa, a maioria acabou cancelada ou executada em uma versão muito mais modesta. O benefício ao cidadão, que vive o dia a dia da cidade, será quase nulo.

Resta o fluxo de recursos trazido pelos torcedores. O sorteio da Copa, em dezembro, jogou um balde de água fria no curitibano: das seleções favoritas, que atrairiam torcedores de todas as nacionalidades interessados em futebol de primeira classe, só a Espanha jogará aqui. Dos oito países que se enfrentarão na Arena da Baixada, apenas dois poderiam ser considerados pesos-pesados do poder aquisitivo, mas, como os espanhóis enfrentam desemprego e uma forte crise, sobrariam apenas os australianos – embora se possa considerar que qualquer estrangeiro que tenha recursos suficientes para voar até o Brasil acompanhar seu país na Copa venha disposto a gastar. A boa notícia é o fato de os norte-americanos estarem em bom número, mesmo sem jogos de sua seleção em Curitiba: eles são o grupo estrangeiro com a maior parte dos ingressos de Irã x Nigéria, e nos outros três jogos são o segundo país estrangeiro em número de ingressos adquiridos, segundo dados que a Fifa divulgou em março.

Como o impacto da passagem desses torcedores por Curitiba só será comprovado depois da Copa, foi de Valcke a reação mais serena. "O importante será ver a pesquisa um ano depois da Copa e veremos se as pessoas vão dizer se foi acertada ou não", afirmou. Mesmo assim, isso não exime os gestores públicos de começar a avaliar desde já as verdadeiras razões da desilusão do curitibano em relação à Copa do Mundo. E, como ficou demonstrado nas manifestações de 2013, essa frustração não tem absolutamente nenhuma relação com ter ou não um ingresso na mão.

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