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A CPI dos Correios deve apresentar nos próximos dias o seu relatório final. Nele, segundo antecipa seu presidente, senador Delcídio Amaral, estaria cabalmente confirmado o mensalão – aquela prática denunciada pelo deputado cassado Roberto Jefferson pela qual, supostamente, distribuía-se dinheiro regulamente a parlamentares para que votassem a favor de projetos de interesse do governo. Confirmar-se-iam também todos os demais contornos nefastos do valerioduto, o nem sempre sofisticado esquema de repasse dos recursos operado pelo Partido dos Trabalhadores que fez eclodir uma das mais graves crises políticas já escritas na história do país.

A conclusão da CPI nos termos previstos acabará por dar plena razão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, na última segunda-feira, em seu programa semanal de rádio, classificou 2005 como um ano "muito sofrido". De fato, deu tudo exatamente ao contrário do que ele próprio havia prognosticado: um ano de grandes investimentos e de tranqüila navegação nos mares da política, um céu de brigadeiro para seu sonho de tranqüila reeleição.

Não foi um ano a ser lembrado com saudades. Tanto quanto os aspectos vergonhosos que o embalaram, tivemos na frente econômica um resultado final que não enaltece as potencialidades brasileiras. O Produto Interno Bruto (PIB) – soube-se oficialmente também na semana passada – cresceu apenas 2,3%, índice que, na América Latina, só foi maior do que o obtido pelo Haiti. Ele representa menos de um quarto do crescimento argentino e venezuelano e é bastante inferior à média latino-americana. E entre os países do BRIC – sigla composta pelas iniciais dos promissores Brasil, Rússia, Índia e China – fomos o que menor taxa de incremento econômico apresentou.

Embora somados esses dois aspectos tão negativos, 2005 não pode, porém, ser simplesmente descartado para o lixo da história. Ele encerra inúmeras lições para que 2006 – que começa efetivamente nestes dias que se sucedem ao carnaval –, seja diferente. Numa visão otimista, talvez até panglossiana, é possível esperar que, finalmente, não se repitam com a mesma intensidade os condenáveis hábitos que as CPIs estão prestes a confirmar. E que, diante do modestíssimo crescimento que tivemos, sejam agora removidos alguns dos fatores que o contiveram.

É certo que estamos prestes a inaugurar as conturbações próprias de um ano eleitoral, ambiente sempre favorável à gastança do dinheiro público, à demagogia, ao populismo e ao jogo político que costuma emperrar todas as iniciativas legislativas. Corre-se o risco da desorganização econômica e institucional e da repetição de mais um "annus terribilis". Pede-se, então, aos atores principais que protagonizarão os próximos e decisivos meses de 2006, responsabilidade e seriedade em relação aos destinos do país. Nesse caso, feliz ano-novo.

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