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Programa de estímulo ao emprego será anunciado pelo governo o quanto antes.
Os dados sobre o emprego formal coletados em novembro último surpreenderam até os mais otimistas.| Foto: Ana Volpe/Agência Senado

Quando o Produto Interno Bruto (PIB) segue uma trajetória de quedas contínuas – como foi o caso da recessão econômica brasileira em 2015 e 2016 –, a última variável a piorar e sofrer efeitos negativos é o nível de emprego. Ou seja, o desemprego é sempre um dos últimos males a se agravar. Essa realidade levou a ex-presidente Dilma Rousseff a afirmar em várias declarações que, apesar da recessão, seu governo vinha conseguindo preservar o nível de emprego. Como se viu, era uma declaração inverídica, dita por ignorância ou demagogia política, ou uma mistura de ambas. A lógica do fenômeno se repete também no sentido inverso: quando o PIB começa a se recuperar e a recessão vai sendo deixada para trás, o nível de emprego é uma das últimas variáveis a serem beneficiadas, e as taxas de desemprego demoram a cair.

No momento em que o crescimento é retomado, em geral ocorre alguma reestruturação dos processos produtivos, especialmente no setor industrial, com a consequência de não haver recuperação de todos os empregos perdidos na recessão. Ainda que a modernização e a inovação sejam necessárias, após as recessões a retomada vem acompanhada de mais automação e incorporação de novas tecnologias que exigem menor número de trabalhadores. Se esse processo finalizador do ciclo recessivo leva ao aumento da produtividade (produto por hora de trabalho) e persiste por anos seguidos, o número de pessoas empregadas aumenta, o padrão médio de bem-estar social melhora, e em algum momento o desemprego retorna às taxas tidas como normais.

Entre os dados de estatística econômica mais difíceis de obter com precisão, está o nível de emprego. Uma das razões é que parte do total de empregos está na economia informal, na qual a coleta de dados é dificultada justamente por ser emprego sem registro oficial. Entretanto, há uma correlação entre o emprego formal, com carteira assinada, e o emprego informal, o que permite identificar correspondência de desempenho entre ambos. Isto é, se a economia cresce e o emprego formal aumenta de forma consistente, o emprego informal vai na mesma direção, não necessariamente na mesma proporção. Os dados sobre o emprego formal coletados em novembro último surpreenderam até os mais otimistas, ao identificar a criação de 99,2 mil vagas no mês, com carteira assinada, muito acima do esperado, que era de no máximo 50 mil vagas.

Os analistas já anunciaram que estão reformulando suas estatísticas sobre o total de empregos criados em 2019 e, também, alterando para cima a estimativa de empregos para 2020. Há quem preveja um aumento de até 1 milhão de empregos no próximo ano, sobretudo por já terem saído estimativas de que o PIB pode crescer até 2,5% no último ano da década. Se isso ocorrer, o Brasil terá dado um salto importante na direção de superar o brutal desemprego acima de 12,5% da população economicamente ativa, que resultou dos anos de recessão, e ampliar significativamente o emprego formal com registro em carteira.

A taxa de desemprego considerada normal varia entre 4% e 6% de toda a população em condições de trabalhar que, segundo o IBGE, já é de 106,1 milhões de pessoas, ou seja, pouco mais da metade dos 210,1 milhões de habitantes do país, conforme revisão feita pelo IBGE em 30 de junho passado. A população brasileira continua crescendo e esse fator, ao lado do elevado desemprego verificado nos últimos anos, requer que o país tenha crescimento robusto por alguns anos a fim de reduzir, quem sabe, até a metade da terceira década deste século 21, o desemprego para não mais que 5%. O ano de 2019 apresentou aumento do nível de emprego de forma sucessiva, que abrangeu vários setores e se distribuiu bem entre as cinco regiões do país.

O Brasil é um país ainda muito pobre, com elevada precariedade na composição de seu capital físico (infraestrutura física, infraestrutura empresarial e infraestrutura social), renda por habitante em torno de 20% da renda dos Estados Unidos, ou 25% da renda de países como Alemanha, Inglaterra e Canadá, e eivado de carências sociais. Ainda há enorme distância entre o nível de desenvolvimento brasileiro na comparação com os países citados, o que é um grande problema, mas também um gigantesco leque de oportunidades. O Brasil ainda está por percorrer um caminho que já foi percorrido pelos 35 países mais adiantados do mundo e, se conseguir achar o rumo certo e nele persistir, em duas décadas poderá dobrar a renda por habitante e, quem sabe, chegar a 25 mil dólares de PIB per capita.

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