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Sem novidades marcantes e com as mesmas fórmulas e cacoetes de anos anteriores, começou ontem a propaganda gratuita desta temporada eleitoral, que será veiculada pelo rádio e tevê até 30 de setembro. Estrearam os candidatos à Presidência da República e a deputado federal. Essa verdadeira maratona de exposição eleitoral envolverá nada menos que 22,4 mil candidatos no país, dos quais nove à Pre­­sidência da República, mais de uma centena a governador, 270 ao Senado e mais de 20 mil aspirantes a deputado federal, estadual e distrital.

Foi o dia da apresentação dos candidatos à Presidência. Os três principais postulantes, José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV), na ordem em que entraram em cena, tentaram imprimir o tom do que será a estratégia da difusão de seus programas de governo, ideias e críticas. E marcar a personalidade e estilo de cada um, mostrando o que consideram mais importante em suas biografias.

O programa do tucano procurou mostrar um candidato "humano e próximo do povo". E Serra tentou apresentar-se como mais bem preparado para administrar o país, buscando deixar claro que vai ampliar o que é considerado positivo na gestão Lula. O programa petista procurou focar Dilma como muito próxima de Lula, e que vai continuar na mesma direção, mas ressaltando que "boa parte do sucesso" dele era resultado do trabalho da ex-ministra-chefe da Casa Civil. Lula chegou a dizer que não existia "ninguém nesse país" mais preparado que ela. Marina foi mais genérica: utilizou o reduzido tempo que tem para fortalecer sua imagem de defensora do meio ambiente.

O que chamou a atenção nos programas de Serra e Dilma, no entanto, foi a dose de ilusionismo aplicada pelos marqueteiros. A realidade das imagens foi filtrada, dando a impressão de que os candidatos pareciam mais flutuar do que andar com pés ao chão. A tal brandura que foram apresentados contrastou fortemente com as cenas nuas e cruas do planeta Terra indo em direção ao caos, mos­­trado por Marina. Passagem na qual ela chegou a prever que o aquecimento global elevará as marés em sete metros e isso destruirá, no Brasil, cidades como Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis.

É evidente que os candidatos precisam e devem apresentar suas propostas através dos meios mais amplos de difusão. E é direito do cidadão conhecer programas e ideias por meio deles. Mas a verdade tem de ser dita: esta é uma fórmula desgastada. Em poucos dias, como acontece todos os anos desde que existe o programa eleitoral gratuito, a ladainha dos candidatos – a falta de criatividade, de propostas e coerência, sem falar das falácias e da demagogia – mais afastará do que atrairá o eleitor. Esse foi o caso da apresentação dos deputados federais, já no primeiro dia: apareceram mais para fazer propaganda de seus candidatos a governador; quase nada de propostas.

Grande parte dos países do mundo tem horário eleitoral gratuito durante as eleições, a exemplo do Brasil. Mas muitos têm um sistema misto, de anúncios pagos e gratuitos, e varia muito a maneira como o tempo de tevê e rádio é dividido. Nos Estados Unidos, por exemplo, não existe tal horário. Os candidatos são obrigados a comprar espaço e aparecem na programação dos comerciais comuns. Na França, os candidatos à Presi­­dência desfrutam do mesmo tempo de exposição, mas esta não se dá em rede nacional. No Canadá, é possível comprar tempo extra.

Estão aí muitos modelos para o Brasil analisar e encontrar uma forma mais eficaz de difundir as candidaturas nos períodos eleitorais. A nova legislatura que se aproxima, com os parlamentos renovados, é uma grande oportunidade para que esse assunto seja analisado com profundidade e no contexto do debate uma ampla reforma política. Só com o interesse renovado é que o eleitor brasileiro vai participar e estimular, efetivamente, a cons­­trução de candidaturas sérias, profícuas; e, por consequência, ser o verdadeiro condutor do aperfeiçoamento democrático de que tanto o país precisa.

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