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Em 1919, o Brasil inquietava-se diante dos rumos institucionais e políticos que a ainda jovem República tomava. Imerso na crise que se seguiu à I Guerra Mundial, o país debatia-se também com suas próprias crises de identidade, buscando libertar-se das velhas oligarquias e de uma pseudo democracia representativa que se sustentava no voto a bico de pena ou à força de quarteladas. Demasiado frágeis, suas instituições mostravam-se incapazes de responder aos anseios de estabilidade política, de modernização econômica e de avanço social.

Foi nesse cenário que, a três de fevereiro daquele ano, nascia a Gazeta do Povo. Já em seu primeiro número o jornal anunciava a que vinha: ao apoiar a candidatura de Rui Barbosa à Presidência, mostrava seu desejo de participar do processo de mudança que o sábio baiano representava. Ele era a antítese dos velhos costumes, defensor da ordem legal e das liberdades públicas, pregador constante em favor da igualdade de direitos entre os cidadãos. Ao apoiá-lo, a Gazeta já há exatos 90 anos assumia o caráter de veículo da inquietação nacional – inquietação que, sem dúvida, continua se constituindo num dos mais nobres e incompreendidos papéis da imprensa livre e independente.

Rui foi afinal derrotado naquela eleição pelas mesmas oligarquias e pelo voto a bico de pena que combatia, mas a Gazeta do Povo manteve viva a linha editorial com que se definiu naquele momento. Hoje, transcorridas nove décadas, o Brasil e o Paraná vivem quadros sobre os quais o jornal dá senso de contemporaneidade à mesma antiga postura – a de ser promotor e ao mesmo tempo porta-voz do estado de inquietação que as novas realidades evocam.

De fato, a crise que abala a economia mundial e, sobretudo e especialmente, a fragilidade e a flacidez ética e moral das instituições nacionais, além da prática política predominante, visivelmente desprovida do caráter de responsabilidade com o interesse público que deveria norteá-la, são motivos mais do que suficientes para que não fiquemos indiferentes. Ao contrário, mantém-se inscrito dentre os nossos deveres pétreos exercer o papel de instigar a crítica, de fustigar as consciências, de abrir espaço pluralista para o debate, de buscar soluções.

Da inquietação que queremos partilhar, reproduzir e estimular encontra-se a realização de um ideal que justifica a nossa existência – a de sermos amplificadores da voz rouca das ruas que clama por uma sociedade mais justa. Faz parte do papel social da imprensa, do qual nunca renunciaremos. Procuramos expressá-lo na vida cotidiana do jornal, quer pelo esforço de mantê-lo tecnologicamente atualizado e jornalisticamente moderno, quer pela oferta da maior quantidade e da melhor qualidade de informações, quer ainda pelo exercício responsável da liberdade de expressão – seja a que professamos em nossos espaços editoriais, seja a que, sendo de terceiros e ainda que contrárias à nossa opinião, abrigamos em nome do pluralismo democrático que defendemos.

Trata-se de uma postura que só a independência econômica que conquistamos ao longo destas nove décadas de existência, graças ao reconhecimento do mercado quanto à penetração do nosso jornal como veículo publicitário, pode garantir. Não estamos, assim, sujeitos a amarras políticas ou a espúrias ligações que possam impedir ou turvar o cumprimento dos nossos compromissos com o leitor.

Aos paranaenses devotamos o melhor dos nossos esforços. O Paraná, com sua pujança natural, suas potencialidades excepcionais e a riqueza humana de seu povo –, construída a partir da contribuição de tantas raças e culturas – é, para a Gazeta do Povo, a suprema guia de suas ações. O sentimento de paranismo de que nos falava Bento Munhoz da Rocha Neto, que o definiu como aquela identidade profunda que nos une à terra, a seus costumes e tradições, é e continuará sendo nosso grande território editorial.

Noventa anos de coerência a princípios com certeza contribuíram para a solidez, respeito e credibilidade que conquistamos. E com certeza refletir-se-ão no nosso futuro. É assim que olhamos para ele.

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