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O simples troca-troca de líderes nas duas casas do Congresso não traz a garantia de uma solução final para a crise política em que o governo está enredado

A crise declarada com a base aliada, em particular o PMDB, está colocando a presidente Dilma Rousseff nas cordas, ameaçando imobilizar o governo neste início de segundo ano de mandato. Não é de hoje que os partidos aliados vêm emitindo claros sinais de insatisfação diante do tratamento que consideram aquém do esperado. Entendam-se como tal os descontentamentos com o não preenchimento de cargos por apaniguados, a demora na liberação de emendas parlamentares e as mudanças ocorridas em ministérios em razão das denúncias de corrupção. Pura reação fisiológica característica da conhecida prática do "toma lá dá cá", que faz do chefe de governo um quase refém dos compromissos assumidos com os partidos.

O mal-estar que se instalou fez com que Dilma sofresse recentemente a primeira e dura derrota no Senado, quando o seu indicado para dirigir a Agência Nacional de Transportes Terrestres, Bernardo Figueiredo, teve o nome recusado para o cargo. A reação da presidente, consumada nesta semana, foi a troca dos líderes do governo no Congresso; o senador Romero Jucá foi substituído pelo correligionário Eduardo Braga, supostamente um dos integrantes da ala dos peemedebistas descontentes, enquanto que na Câmara dos Deputados o petista Arlindo Chinaglia entrou no lugar de seu colega Cândido Vaccarezza.

As mudanças efetuadas nas lideranças do Senado e da Câmara sinalizam a disposição da presidente Dilma de debelar a crise na base parlamentar. Impasse que na continuidade apresenta forte potencial para atrapalhar a tramitação no Congresso dos projetos de interesse do Palácio do Planalto. Algumas dessas matérias revestem-se de grande interesse para o país, como a aprovação do texto do Código Florestal, a questão dos royalties do petróleo do pré-sal e a Lei da Copa. Questões nas quais o governo não quer correr risco de ser surpreendido pela rebeldia de políticos aliados amuados e que podem acabar votando contra a orientação da liderança.

É certo que o simples troca-troca de líderes nas duas casas do Congresso não traz a garantia de uma solução final para a crise política em que o governo está enredado, mas apresenta alguns inegáveis pontos positivos. O principal deles é a explícita disposição manifestada por Dilma com as mudanças de acabar com as querelas que vêm comprometendo o andamento de sua administração. Diante de um Congresso dominado por nomes que representam o que de pior existe na política nacional – José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Romero Jucá, para citar apenas algumas dessas notórias figuras –, Dilma mostra que não pretende assistir impassível à desarticulação política de seu governo. Nesses meses à frente do país, ela já teve tempo de sobra para saber o quanto é difícil governar diante de tantas pressões. Portanto, não ceder às chantagens e manobras emanadas do fogo amigo, mas sim estabelecer com o Congresso um relacionamento pautado pelos interesses do país é o que se espera, tanto da presidente como dos parlamentares.

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