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"Agora é tudo contigo, Graciosa". Assim a presidente Dilma Rousseff encerrou, em 13 de fevereiro de 2012, seu discurso na cerimônia em que Graça Foster tomou posse como presidente da Petrobras. Era o ponto culminante da carreira de Graça, que entrou na estatal em 1978, como estagiária. Pouco mais de dois anos e meio depois, a empresa está em uma situação financeira complicada (parte disso devido a decisões que, ressalte-se, não dependiam de Graça), mas o que mais chama a atenção é a dimensão da corrupção que havia fincado raízes na Petrobras e está sendo desvendada pela Operação Lava Jato, o que nos leva a perguntar se ainda há condições para que Graça permaneça no cargo.

As delações premiadas feitas por alguns dos presos na operação, especialmente o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor Paulo Roberto Costa, descrevem um enorme esquema de propinas para o fechamento de contratos entre várias empresas e a Petrobras, esquema esse que teria contado com a participação de várias das diretorias da empresa. O dinheiro – normalmente equivalente a 3% do valor do contrato – seria repartido entre o PT e os partidos responsáveis pela indicação dos diretores da área que contratava a obra: Costa, como diretor de Abastecimento, era ligado ao PP; a diretoria de Serviços estava nas mãos do petista Renato Duque.

É preciso dizer que, até agora, não existe nenhum indício de que Graça tenha participado de alguma das falcatruas apuradas pela Lava Jato, embora ela tenha sido também diretora da Petrobras, na área de Gás e Energia, entre 2007 e 2012 – exatamente o período no qual o esquema teria sido posto em prática. E, das operações supostamente fraudulentas descritas até o momento, nenhuma ocorreu durante o período de Graça Foster na presidência da estatal. Isso não significa, no entanto, que lhe faltava competência para enxergar o que estava acontecendo tão perto dela, especialmente se considerarmos os valores envolvidos e o fato de que, no organograma da Petrobras, os diretores estão imediatamente abaixo da presidência da empresa.

Especialmente significativo foi o caso da empresa holandesa SBM Offshore, acusada de pagar propina a funcionários da Petrobras e que fechou um acordo com o Ministério Público holandês, pagando US$ 240 milhões para escapar de um processo. Em março, Graça afirmou que uma investigação interna não havia encontrado nenhum indício de irregularidade. Só no último dia 17 ela veio a público dizer que já sabia, desde meados do ano, que as denúncias eram verdadeiras. Ela não só escondeu a informação do público durante todo esse tempo como também pode ter mentido à CPMI da Petrobras quando, na sessão de 11 de junho, disse não saber de nenhuma investigação no exterior envolvendo a Petrobras e a SBM – segundo a revista Veja, a empresa holandesa teria informado Graça oficialmente sobre as propinas em 27 de maio. Acrescente-se a esse caso a defesa enfática da compra da refinaria de Pasadena, que resultou em prejuízo quase bilionário para a estatal.

Dilma obviamente nunca diria isso em seu discurso na posse de Graça, mas, se é verdade que a presidente da República teria escolhido a então diretora para fazer a limpeza na Petrobras, ou ela não teve a disposição de realizar o trabalho da forma correta, ou fatores externos a impediram de fazê-lo. Afinal, uma faxina bem feita teria exposto as entranhas de um sistema no qual o PT estava envolvido até os ossos, o que seria fatal antes da eleição presidencial de 2014. Se realmente foi esse o caso, deixar de moralizar uma empresa por considerações político-partidárias também revelaria incapacidade para um cargo tão importante quanto a presidência da Petrobras.

E aqui é preciso considerar o papel de Dilma Rousseff. Cada vez mais surgem indícios de que não apenas ela (como ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração da Petrobras e, depois, presidente da República) como também o ex-presidente Lula sabiam que havia algo de profundamente errado na estatal – mas pouco ou nada fizeram. Se é assim, sua parcela de responsabilidade não é pequena. Um gestor sério e comprometido teria afastado envolvidos e os superiores incapazes de enxergar a pilhagem.

Já há representações no Congresso pedindo o afastamento de Graça. Se ela mesma não tomar a iniciativa de reconhecer sua incapacidade e deixar a empresa, que isso ocorra por decisão de instância superior. Mas, nesse caso, que seu sucessor seja alguém dos quadros da empresa, com respeito dos funcionários e vontade firme de restabelecer a moralidade nos procedimentos da Petrobras. E que a substituição, se vier, não traga consigo aquele tom de "agora vamos pensar apenas no futuro". É preciso seguir investigando para apurar a responsabilidade de todos nesse escândalo: os que agiram e os que colaboraram pela omissão, sem poupar ninguém, por mais alto que seja seu cargo.

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