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Dilma Rousseff está acuada. Sua popularidade é menor que a de Fernando Collor às vésperas do seu impeachment, em 1992. No Congresso, a ala hostil à presidente cresce, a base aliada diminui com a saída do PDT, e também o PTB anunciou que analisará as propostas caso a caso. Mesmo parlamentares do PT têm votado a favor de projetos claramente nocivos ao ajuste fiscal de Joaquim Levy, como o que vincula salários da Advocacia-Geral da União e de delegados civis e federais aos vencimentos dos ministros do STF – neste caso, até mesmo o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, orientou a bancada a votar pela aprovação da PEC. Os indicadores econômicos mostram deterioração constante, a Operação Lava Jato ameaça chegar ao coração do governo e neste domingo está prevista outra manifestação popular contra Dilma e o PT.

Na semana passada, o vice-presidente Michel Temer, a quem cabe conduzir a articulação política do governo, recebeu ministros e líderes partidários e falou, depois, sobre a necessidade de um líder que “tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos”. União e diálogo parecem ser as palavras mais presentes na retórica do governo neste momento, mas as atitudes concretas mostram que Dilma vai na direção contrária.

A tendência a buscar os tapinhas nas costas em momentos delicados não surgiu neste ano

Prova disso é o resultado da reunião realizada no último domingo no Palácio da Alvorada, com a participação de Dilma, Temer, ministros e líderes do governo no Congresso. A decisão que emergiu dali foi a de buscar os ditos “movimentos sociais”, aqueles que já são aliados incondicionais do petismo: nesta terça, Dilma receberá participantes da “Marcha das Margaridas”, evento que reúne sindicatos e sem-terra. Na quinta-feira, será a vez do Movimento dos Sem-Terra propriamente dito e da União Nacional dos Estudantes. Em vez de dialogar com quem está do outro lado, Dilma busca plateias dóceis, dispostas a lhe oferecer algum consolo – mas que em nada representam a maioria de brasileiros insatisfeitos com seu governo.

Essa guinada na direção dos movimentos de esquerda tem dois grandes mentores: o ex-presidente Lula e o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência. Rossetto é o mesmo que, quando a primeira grande manifestação contra Dilma levou milhões às ruas em 15 de março, disse em entrevista coletiva que o megaprotesto era menos importante que as passeatas promovidas dois dias antes pela CUT, pelo MST e por outras entidades afinadas com o petismo, e que reuniram grupos muito menores.

Mas a tendência a buscar os tapinhas nas costas em momentos delicados não surgiu neste ano. Em 2013, quando as manifestações de rua se tornaram multitudinárias e sua pauta escapou completamente dos grupos que organizaram os primeiros protestos, como o Movimento Passe Livre, a reação de Dilma foi convidar ao Planalto, no fim de junho de 2013, apenas grupos ideologicamente afinados com a plataforma do PT. Até os vândalos black blocs foram citados entre os possíveis interlocutores da Presidência. Pouco depois, em fevereiro de 2014, Dilma recebeu membros do MST que, dias antes, haviam promovido batalha campal na Praça dos Três Poderes, com tentativa de invasão ao prédio do Supremo Tribunal Federal e deixando dezenas de policiais feridos. Vários desses encontros foram organizados por Gilberto Carvalho, antecessor de Rossetto.

A maior função do diálogo é entender o ponto de vista do outro, daquele que apresenta discordâncias. Em vez disso, o governo procura aqueles que já concordam com Dilma e o PT, apenas para ter suas crenças reafirmadas e passar adiante a imagem de que a presidente não está sozinha. De fato, ela ainda conserva uma base de apoio, mas a está usando para construir um escudo que, no fim, a isolará ainda mais do resto da sociedade, aquela maioria que Dilma deveria se dispor a ouvir em vez de confiar apenas no julgamento de uma minoria chapa-branca.

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