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Série de reportagens que a Gazeta do Povo começa a publicar hoje quer ser um apoio valioso para o combate à impunidade que caracteriza os crimes de homicídio em Curitiba

Não à toa a população tem medo: Curitiba registra atualmente mais de um homicídio por dia. Nos fins de semana, os números noticiados são impressionantes, às vezes chegando a duas dezenas de vítimas na capital e nas cidades vizinhas. Cabe ao jornalismo registrar essas mortes, até para que os crimes não passem em branco. No entanto, é preciso fazer mais. É preciso fomentar a discussão para encontrar soluções, de forma que o problema não se perpetue.

A Gazeta do Povo resolveu dar sua contribuição: durante 18 meses, analisou inquéritos policiais para saber como é feita a investigação dos homicídios. Quantas provas são colhidas? Quantas testemunhas são ouvidas pelos policiais? Quantos suspeitos são levados ao banco dos réus? Qual a chance de um homicida ser condenado judicialmente? E qual a chance de ele escapar impune?

O trabalho começou de maneira modesta: a reportagem entrou em contato com as autoridades e solicitou acesso aos documentos. Aos poucos, foram sendo detectados problemas graves, e que não se reduziam apenas ao trabalho dos investigadores e delegados. Percebeu-se que há falhas da Polícia Militar, dos peritos que produzem laudos e até na estrutura do Judiciário.

A Gazeta tomou a decisão de investir a fundo na análise do problema. Montou uma equipe de quatro repórteres e, além das investigações que ainda estão tramitando, começou a ver também os casos que haviam sido arquivados sem que se encontrasse solução. Para ter um panorama completo, os repórteres também foram às duas varas do Júri de Curitiba onde os casos de homicídio são julgados e analisaram os processos que chegaram a condenar alguém pelo crime.

No total, a Gazeta investigou mil assassinatos ocorridos em Curitiba e chegou a conclusões importantes, que passam a ser publicadas a partir de hoje. Para ilustrar as reportagens, uma equipe de designers e de profissionais de vídeo também trabalhou em oito histórias que revelam os principais problemas das investigações – os vídeos que surgiram desse trabalho estarão disponíveis no site do jornal.

Por que decidimos apresentar ao leitor esse quadro, que infelizmente escancara um problema sério no campo da segurança pública? Não se trata de criar um alarmismo entre a população, que conhece melhor que ninguém quais são os riscos que se corre em cada bairro de Curitiba. Mas confiamos que fornecer o máximo de informação ajuda a todos: o poder público terá mais ferramentas para decidir suas estratégias no combate ao crime, e o cidadão terá as condições ideais para avaliar essas estratégias e, se for o caso, cobrar melhorias concretas que estejam muito além do genérico grito de "mais segurança" que se ouviu nas ruas semanas atrás.

A informação serve não apenas para embasar a cobrança, mas também o reconhecimento. A série de reportagens mostra que em alguns pontos houve avanços, como no exemplo citado na edição de hoje: o tempo para que a polícia ouvisse a primeira testemunha caiu de quatro meses, em 2010, para menos de dois dias atualmente. É claro que, se por um lado sabemos que é possível avançar mesmo com os problemas de pessoal e de estrutura que a polícia tem hoje, por outro lado apenas a boa vontade não basta; as eventuais melhorias não escusam o poder público de investir para melhorar as possibilidades materiais dadas aos policiais para suas investigações.

Esperamos que a série sirva como apoio para que as autoridades possam trabalhar em planos que levem a uma maior punição dos criminosos. Afinal, sabe-se que é a certeza da punição, muito mais do que a dureza da pena, que evita que novos crimes sejam cometidos. A atual situação, em que apenas 23% dos homicidas são levados a julgamento, não pode continuar; são números como esse que ajudam a aprofundar a espiral de impunidade, e cabe principalmente ao poder público garantir a segurança de seus cidadãos.

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