• Carregando...

“Não tenho contas no exterior.” Enquanto estava na Presidência da República, Dilma Rousseff usou e abusou desta frase como estratégia para se defender do processo de impeachment que tramitava no Congresso Nacional. A mensagem era clara: Dilma, que não tinha contra si nenhuma acusação de crimes de corrupção, estava sendo julgada por um mero detalhe técnico-fiscal, em uma decisão que seria tomada por parlamentares encrencados com a Justiça pelos mais diversos ilícitos e liderados por Eduardo Cunha; portanto, o processo seria ilegítimo. Por mais que a premissa – a folha corrida e as acusações que pesam contra vários deputados e senadores – fosse verdadeira, a conclusão era falsa, pois Dilma havia, sim, cometido crimes de responsabilidade cuja pena, prevista pela legislação, era o impeachment. Mas, caso as informações atribuídas às delações do empreiteiro Marcelo Odebrecht e do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró sejam confirmadas, até mesmo o discurso da “presidente honesta julgada por homens desonestos” terá naufragado.

“Dilma sabia de tudo o tempo todo”, disse Cerveró sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que deu prejuízo bilionário à Petrobras. Em 2006, quando ocorreu o negócio, Dilma era presidente do Conselho de Administração da Estatal e Cerveró era diretor da área internacional da empresa. O escândalo estourou em 2014 e Dilma culpou o diretor, que não teria apresentado todas as informações sobre as cláusulas do contrato de aquisição. O caso de Pasadena, é verdade, não tem consequências práticas sobre o mandato de Dilma, pois ela não pode ser removida da Presidência da República por atos alheios ao exercício da função. Ainda assim, se as informações fornecidas por Cerveró em sua delação premiada forem verdadeiras, o estrago na imagem de Dilma estaria feito.

O Brasil inteiro já sabia que Dilma havia mentido descaradamente para a nação na campanha de 2014

Mas explosiva mesmo é a informação que teria sido fornecida por Marcelo Odebrecht. De acordo com informações da revista IstoÉ, entre o primeiro e o segundo turnos da campanha da reeleição, em 2014, o empreiteiro teria procurado Dilma sobre um pedido feito pelo tesoureiro Edinho Silva: R$ 12 milhões para serem divididos entre o PMDB e o marqueteiro João Santana (preso pela Lava Jato em fevereiro deste ano). Odebrecht já havia feito doações legais e queria conferir o pedido de Silva com a presidente-candidata, que teria sido enfática: “É para pagar”. Essa seria a evidência definitiva de que Dilma não apenas tinha conhecimento de um esquema ilegal para irrigar sua campanha, mas também atuou diretamente na operação do caixa dois. Uma informação que, comprovada, seria arrasadora para Dilma e daria motivos mais que suficientes para que o Tribunal Superior Eleitoral decidisse, finalmente, pela impugnação da chapa Dilma-Michel Temer. A essa altura, é impossível não ligar esta acusação a uma outra, igualmente grave, que o ex-senador Delcídio do Amaral fez em sua delação premiada: a de que Dilma teria usado nomeações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para livrar Odebrecht da cadeia.

O Brasil inteiro já sabia que Dilma havia mentido descaradamente para a nação durante a campanha presidencial de 2014, levando o eleitorado a acreditar que os indicadores econômicos estavam sob controle. A mentira contumaz já não pode ser uma característica de quem se diz honesto, mas ainda não havia evidência de que Dilma tivesse obtido benefício pessoal ou participado ativamente de ilícitos. Isso muda se as informações de Marcelo Odebrecht forem verdadeiras, pois ele implica Dilma pessoalmente na operação de caixa dois na campanha que lhe valeu um enorme ganho: mais quatro anos de poder.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]