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A bebê Indi Gregory, de 8 meses, terá seu suporte vital desligado por ordem judicial.
A bebê Indi Gregory, de 8 meses, terá seu suporte vital desligado por ordem judicial.| Foto: Arquivo familiar

Novamente, médicos e a Justiça britânica atropelam completamente o direito dos pais para condenar um bebê à morte. A pequena Indi Gregory, nascida em fevereiro deste ano, está prestes a ter o mesmo destino cruel de Charlie Gard e Alfie Evans, que morreram em 2017 e 2018, respectivamente, quando os aparelhos que os mantinham vivos foram desligados a pedido dos médicos que cuidavam de seus casos – já que não seria muito adequado afirmar “cuidavam das crianças” para falar de quem chegou a ir aos tribunais para que eles não mais pudessem viver.

Assim como Charlie, Indi nasceu com uma doença rara congênita. No caso da menina, suas mitocôndrias – a estrutura celular que produz energia – estão comprometidas, e ela não consegue sobreviver sem a ajuda de um ventilador hospitalar. O hospital Queen’s Medical Center, na cidade de Nottingham, buscou a Justiça pedindo autorização para remover o suporte vital de Indi, dando início a uma batalha judicial na qual, assim como ocorrera nos casos de Charlie e Alfie, a vontade dos pais foi sumariamente ignorada. Em uma sequência de decisões, os magistrados disfarçaram, com uma série de expressões de caráter sentimentaloide, sua convicção de que era indubitavelmente melhor que Indi morresse, em vez de permanecer viva.

Juízes e médicos estão realmente empenhados em fazer com que Indi não sobreviva, e não querem dar a ela e a seus pais a menor chance de tentar um tratamento experimental em outro lugar

Em 2 de novembro, um juiz negou a solicitação para que Indi fosse transferida para o hospital pediátrico Bambino Gesù, em Roma; a instituição, de responsabilidade do Vaticano, havia se voluntariado para continuar cuidando de Indi e tentar uma terapia experimental, repetindo a oferta feita – e recusada pelos tribunais britânicos – nos casos de Charlie e Alfie. Uma cartada adicional ainda foi tentada para mudar a sorte da bebê: em 6 de novembro, o governo da Itália aprovou rapidamente a concessão de cidadania italiana a Indi, transformando o caso em uma questão também diplomática – os italianos chegaram a afirmar que cobririam os custos de uma eventual transferência da criança para Roma, para não onerar os cofres britânicos. No entanto, nada disso adiantou. A Justiça rejeitou até mesmo o pedido dos pais para que a bebê pudesse, então, morrer em casa, em vez do ambiente impessoal de um hospital ou de uma casa de cuidados paliativos. Na audiência de 10 de novembro, em que os últimos recursos foram negados, um juiz da Corte de Apelações chegou a dizer que não toleraria “táticas manipulativas de litígio”, uma escolha absurda de palavras para descrever a luta de um casal pela vida da filha.

Essa sequência de “nãos” dá uma ideia perfeita do Zeitgeist atual. Qualquer sociedade saudável aceita e respeita o direito dos pais de buscar os meios que considerem mais adequados e sejam eticamente aceitáveis para cuidar de seus filhos. Todos os envolvidos neste caso, especialmente os pais de Indi, certamente sabem que um tratamento experimental pode não funcionar; sabem inclusive que a criança poderia nem mesmo resistir à viagem. Mas, confrontados com a certeza da morte com data marcada na Inglaterra, os pais de Indi preferem a chance, ainda que ínfima, de sucesso na Itália. Se a bebê fosse transferida, com os pais assumindo todas as responsabilidades pelo que poderia vir a ocorrer, os médicos de Nottingham e os juízes britânicos teriam “se livrado” do “problema” que Indi se tornou; mas isso não os satisfaz: eles estão realmente empenhados em fazer com que a menina não sobreviva, e não querem dar a ela e a seus pais a menor chance de tentar.

Indi se tornou aquilo que, em 1920, os alemães Karl Binding e Alfred Hoche chamaram de “vida indigna de ser vivida”, como lembrou o colunista da Gazeta do Povo Flavio Gordon no texto inicial de uma série que mostra como foi construído o arcabouço intelectual que, mais tarde, justificaria não só os programas de extermínio nazistas, mas toda a defesa atual do aborto, do infanticídio e da eutanásia. Em uma ironia macabra, essa defesa usa um discurso que tem como mote principal a compaixão, como se os assassinos estivessem, no fundo, fazendo um grande favor a suas vítimas. Os pais de Indi e todas as pessoas de bom senso que assistem a esse drama, no entanto, sabem que não há nada compassivo neste desejo de matar que move aqueles que usurparam os direitos parentais para decidir burocraticamente o que é “melhor” para uma criança doente.

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