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A pressão inflacionária dos alimentos foi a responsável pela queda modesta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, decidida pelo Banco Central nesta semana. Pesaram ainda, segundo analistas, as incertezas derivadas do cenário internacional, onde os preços dos principais ativos financeiros continuam sob volatilidade, num processo que pode se prolongar até após as eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos. Porém, o que mais influiu na decisão dos dirigentes monetários foi a questão dos preços internos, com o presidente Lula anunciando que não permitirá a volta da inflação "porque ela corrói o poder aquisitivo dos trabalhadores".

De fato, com a entressafra na produção dos principais alimentos e a elevação do consumo interno – além da exportação de "commodities" agrícolas como soja, milho, carne e derivados – o custo de vida calculado pelo Dieese subiu 0,4% em agosto, um salto em relação à deflação de 0,30% registrada em julho. Mais, o IGP-DI de agosto marcou mais 1,39%, ante 0,37% em julho – maior resultado desde 2004. É verdade que esse indicador da Fundação Getúlio Vargas, ao dar peso elevado para o índice de preços por atacado (alta de 1,96% ante 0,42% em julho), pode se afastar de outros levantamentos; o IPE, da Fundação de Economia da Universidade de São Paulo, apurou uma taxa de apenas 0,07%, devido a metodologias diferentes no cálculo.

De toda forma, os dados acumulados preocupam: no ano a inflação pontua 2,8%, mas nos últimos doze meses ela sobe para 4,18%, ante a meta inflacionária de 4,5% para todo o exercício. Enquanto isso, o trigo e o milho sofrem os efeitos da alta no mercado internacional por seu uso em energia ou queda global da produção. No país caíram as colheitas de feijão e arroz, a pecuária leiteira atravessou anos de desestimulo e mesmo a safra "recorde" projetada para 130 milhões é modesta para nossa escala territorial.

A inflação que volta a assustar faz retornar velhos fantasmas que imaginávamos exorcizados em definitivo após anos de estabilidade. É que o Brasil vive sempre sob a "síndrome do cobertor curto": a ampliação do consumo de gêneros alimentícios sob o impulso do "Bolsa-Família" e outros programas assistenciais – além da exportação de "commodities" agrícolas – não foi acompanhada pelo aumento da produção em escala compatível. O que gera inflação num país como o nosso é a oferta escassa em relação à demanda.

Operamos com a economia travada, definiu o ex-ministro Rubens Ricupero, ao comparar o desempenho do Brasil com o de outros países emergentes a partir de sua experiência como secretário geral da Unctad – a organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. Nesse modelo, qualquer aquecimento no consumo gera tensões inflacionárias, combatidas pelo Banco Central com a política restritiva de "vôo de galinha" no crescimento econômico e na elevação do padrão de renda interno.

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