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O governo erra quando leva até as últimas consequências a prática de segurar artificialmente os preços do transporte coletivo, dos combustíveis e da energia

A meta de inflação anual estabelecida em resolução do Banco Central (BC) é de 4,5%, admitindo-se uma variação de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo, ou seja, de 2,5% até 6,5%. Esse limite superior da inflação não é considerado aceitável, servindo apenas para indicar que, dentro dele, o governo entende estar conseguindo controlar a elevação de preços. Caso o teto de 6,5% seja ultrapassado, a interpretação é de que a inflação está escapando ao controle do governo, o que passa a exigir medidas drásticas para evitar as nefastas consequências sobre a economia e o padrão de vida médio da população.

No governo Dilma, a inflação vem teimando em subir e tem ficado sempre acima do centro da meta. Em alguns momentos, a pressão altista tem sido bastante forte, a exemplo do início de 2013, quando a inflação do grupo "alimentos" chegou a 14% no acumulado de 12 meses. No primeiro semestre deste ano, a inflação caminhava para passar dos 6,5%, mas a elevação de preços retrocedeu e, em julho, o IPCA ficou zerado. O governo comemorou e a própria presidente andou espetando os críticos que falavam em possível perda do controle da inflação pelas autoridades econômicas.

A inflação corrói o poder de compra dos assalariados, desorganiza o sistema de preços, desestimula o investimento privado e joga a popularidade do governo para baixo. Por isso, as autoridades andaram eufóricas com a possibilidade de a inflação de 2013 ficar em torno de 5,7%, um pouco menor que a de 2012. Mas o que não vem sendo dito com clareza é que existe uma inflação represada, mantida baixa por meio de artificialismos insustentáveis no médio prazo. A taxa de inflação atual não é normal e tranquila, pois há três preços represados que forçarão a inflação futura para cima.

O primeiro preço represado é o das tarifas do transporte urbano, que, além de não terem sido aumentadas, foram reduzidas em algumas cidades por pressão das manifestações de rua. Em algum momento, as autoridades terão de autorizar os reajustes necessários para manter o equilíbrio financeiro das operadoras. O prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd, fez vários alertas dizendo que ou as tarifas são reajustadas ou a prefeitura terá de arcar com alguns bilhões para sustentar os custos de operação dos transportes.

O segundo preço represado refere-se ao grupo de combustíveis derivados do petróleo. A presidente Dilma pessoalmente assumiu a prática de não autorizar a Petrobras a efetuar reajustes dos preços dos combustíveis, com o objetivo de segurar a inflação. Além de criar um problema para o futuro, quando os preços terão de ser reajustados em porcentuais maiores para compensar os anos de represamento, essa política tem sido responsável pela deterioração da Petrobras, cujo maior reflexo é a perda imposta aos acionistas da empresa.

No caso específico dos derivados de petróleo, há um sério problema adicional: no dia em que o governo não mais conseguir segurar seus preços, os aumentos elevarão, novamente, os custos das empresas de ônibus e exigirão novo reajuste das tarifas de transporte, além do aumento que não foi autorizado por causa das pressões populares.

O terceiro preço represado está vinculado ao efeito da elevação da taxa de câmbio sobre as empresas produtoras de energia, em particular Itaipu. Com o aumento do dólar, as tarifas de energia são pressionadas para cima e, em algum momento, acabarão sendo reajustadas, provocando elevação dos custos das empresas em geral e das despesas das famílias.

Quando não mais puderem ser mantidos represados, esses preços irão pressionar a inflação para cima. Por isso, o governo erra quando leva até as últimas consequências a prática de segurar artificialmente tais preços. No caso das tarifas de transportes, é compreensível que as manifestações populares tenham levado as autoridades a segurar os reajustes. Mas, no caso dos combustíveis, a situação é outra. A presidente Dilma assumiu deliberadamente a decisão de barrar os aumentos, prática na qual ela foi longe demais e que terá de ser revista.

A lição desse panorama é que controlar a inflação por meio de represamento artificial de preços significa apenas transferir o problema para o futuro – problema que pode voltar mais sério e mais grave.

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