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Os encantos do mundo diplomático deram lugar à real política das nações nesta semana, com o vazamento de documentos secretos da diplomacia dos Estados Unidos pelo WikiLeaks, organização não-governamental sediada na Suécia que divulga dados confidenciais sobre temas sensíveis de governos e empresas. Com a divulgação de 250 mil documentos secretos, os procedimentos adotados pelos norte-americanos tornaram-se públicos e começam a gerar um clima mútuo de desconfiança entre as nações, o que pode se tornar bastante indesejável.

O conteúdo dos telegramas da diplomacia norte-americana tornado público mostra um amplo leque de práticas adotadas pelos Estados Unidos: espionagem do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, investigação atrás de dados pessoais de diplomatas, o que inclui senhas de cartões de crédito, relatórios em que líderes como Hugo Chávez são classificados como "loucos". Ainda é cedo para dizer até que ponto os embaraços causados pela divulgação dos documentos irão realmente influir no corpo a corpo diplomático entre os Estados Unidos e as demais nações, até porque nas relações internacionais não há ingênuos. É bastante razoável imaginar que muitos outros países, além dos Estados Unidos, utilizem práticas similares às dos norte-americanos.

O vazamento dos documentos, entretanto, abre uma discussão interessante sobre os limites da diplomacia. É permitido às nações espionarem membros da ONU visando aos interesses exclusivos de seus Estados? Em se tratando de nações soberanas, quais são os limites que deveriam ser estabelecidos no trato internacional? Muito difícil dizer. É mais provável que o episódio passe sem mudanças significativas no plano das relações intergovernamentais, servindo mais como um alerta para outros governos e entidades em suas relações internacionais e nas práticas adotadas para se obter informações estratégicas.

Um segundo debate inevitável é o referente à divulgação de informações secretas, pois, em muitos casos, elas podem até ser consideradas pelo país afetado como de segurança nacional. Mesmo que os documentos confidenciais produzam apenas constrangimento diplomático, talvez os grandes jornais do mundo tenham dado uma repercussão maior do que a merecida ao caso, já que, embora fossem de domínio público após a divulgação feita pelo WikiLeaks, a repercussão produzida pelos grandes veículos de comunicação em nível mundial pode ter contribuído ainda mais para que meros embaraços venham a acirrar as desconfianças entre países. Isso deve prejudicar, inclusive, uma ação mais integrada para resolver problemas globais, como câmbio, comércio e clima.

Essas reflexões, cedo ou tarde, terão de ser levadas em conta. Em um mundo de comunicação globalizada será impossível evitar vazamentos de documentos ou condenar aqueles que se propõem a publicar as informações vazadas. Em vez disso, é possível que se caminhe para uma maturidade do consumo desse conteúdo, avaliando o que, de fato, é relevante para se tratar como assunto de interesse público ou da comunidade internacional.

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