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O Brasil tem registrado avanço no setor de pesquisa. Nesta semana, inclusive, concedeu novo estímulo com editais lançados pelos ministérios da Saúde e de Ciência e Tecnologia para estudos nas áreas de terapia celular, câncer, doenças negligenciadas, hipertensão e saúde mental. Abre-se, aqui, um parêntese para lamentar que nem todas essas pesquisas respeitem a dignidade da vida humana, como é o caso, por exemplo, dos experimentos que usam embriões.

O salto quantitativo da pesquisa nacional não nos dá garantia de aplicabilidade. Um levantamento do Banco Mundial (Bird) posiciona o Brasil atrás de outros países em desenvolvimento quando se trata da produção de conhecimento novo e de sua conversão em resultados práticos. Tal deficiência tem como ponto crucial o ensino básico. Comprovadamente precário, ele resulta em profissionais pouco qualificados, universidades distantes do setor produtivo, voltadas mais para conhecimento teórico. Além disso, amargamos os frutos de uma cultura muito estimulada nas últimas décadas, a de importar e adaptar tecnologias.

Como salienta o estudo do Banco Mundial, o Brasil publica hoje pesquisas em um ritmo aceitável, chegando a 2% dos artigos das revistas e jornais científicos. O número de patentes, no entanto, é quase desanimador: apenas 0,18% dos registros internacionais têm chancela brasileira, conforme acentua Alberto Rodríguez, especialista em educação e um dos principais autores do trabalho do Bird.

A sua conclusão: no estágio atual, em que conhecimento – e não recursos naturais ou mão-de-obra barata – é o elemento central para um país dispor de vantagens competitivas, o Brasil perde terreno. E só avançará a passos largos quando se dedicar efetivamente à educação universal de qualidade.

O técnico aponta outros desafios que o Brasil precisa vencer, como fazer com que a pesquisa e o desenvolvimento sejam mais voltados para a indústria e menos para a teoria. Há crescimento, mas de modo tímido quando comparado a outros países em desenvolvimento. A expansão econômica está ancorada em elementos instáveis, como o boom das commodities, que tem assegurado uma balança comercial positiva, alimentando um crescimento razoável, mas que não garante o caminho para o desenvolvimento pleno em um futuro próximo.

O Brasil, como revela o estudo do Bird, não cresceu por ser uma sociedade inovadora, mas porque a base de capital de trabalho aumentou. O fundamental está no que se chama de fatores totais da produtividade, essencialmente na capacidade de a sociedade produzir de forma melhor, mais eficiente e mais barata o mesmo produto de alta qualidade.

Existe ainda um reboque. A inovação que decorre do conhecimento "importado", com a adaptação da ciência e tecnologia. Há, como ensina Rodríguez, dois mecanismos principais pelos quais um país consegue trazer conhecimento: por intermédio do comércio exterior, porque a maioria do conhecimento vem com o maquinário, por exemplo, e pelo intercâmbio universitário. Aí também ficamos à margem, uma vez que o número de estudantes brasileiros em universidades no exterior é reduzido – especialmente quanto o comparamos ao número de chineses e indianos.

É na terceira via – a da inovação e da difusão da tecnologia e do conhecimento já presentes no país – que devemos investir. O estímulo do governo para a inovação é essencial, pois as empresas privadas, além da pouca tradição na parceria com pesquisadores, não dispõem de capital capaz de colocar o país no mesmo patamar das nações asiáticas. A aposta ganha ainda mais urgência em tempos de crise econômica, pois, em detrimento da ciranda financeira, os novos investimentos tenderão a convergir para os setores produtivos. Eis mais uma razão para que as iniciativas pública e privada se unam de modo a fomentar a pesquisa e a fazê-la romper os muros da universidade, revertendo-se em benefícios palpáveis para toda a sociedade.

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