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Ameaçada de perder o mandato, por 265 votos a favor, 165 contra e 20 abstenções, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) foi absolvida na última terça-feira, no plenário da Câmara, da acusação de corrupção. Para relembrar, o que motivou o processo foi um vídeo feito em 2006 em que Jaqueline e seu marido foram flagrados recebendo R$ 50 mil como parte de um esquema de corrupção que acabou por derrubar o governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. A posição complacente que preservou o mandato da parlamentar mostra mais uma vez que os políticos brasileiros, em sua maioria, continuam se portando como se a opinião pública não existisse, tomando decisões calcadas unicamente no corporativismo e nos conchavos partidários.

Na tese sustentada para inocentar Jaqueline a defesa justificou que, quando do episódio mostrado pelos telejornais de todo o país, ela ainda não era deputada, apenas uma cidadã comum e, portanto, não poderia ser punida por um fato anterior ao seu mandato eletivo. Trocado em miúdos, isso permite supor que a um político é permitida a realização de qualquer falcatrua, com a ressalva de que o deslize seja cometido antes da sua eleição.

O desenlace do caso Jaqueline Roriz é mais um no vasto rol de desmandos patrocinados por representantes do Legislativo, seja na esfera federal ou estadual, mais interessados em preservar privilégios e compadrios, mesmo que isso signifique atropelar a ética e a moralidade que deveriam nortear os detentores de qualquer função pública. Uma vez livre do perigo da cassação do mandato, a deputada não perdeu tempo e partiu para a ofensiva, encontrando na imprensa a grande responsável por tudo de ruim que estava enfrentando. "Lamentavelmente – desabafou ela entre lágrimas – vivemos um período em que parcela da mídia devora a honra de qualquer pessoa".

A desfaçatez com que a indigitada deputada distorce os fatos, como se fosse vítima de uma vendeta, sem qualquer menção ao gesto de embolsar candidamente a bolada de R$ 50 mil, fruto da corrupção que grassava no Distrito Federal, é digna de registro. Nenhuma palavra, nenhuma explicação sobre a dinheirama recebida e, mesmo assim, com as bênçãos de seus pares, tudo acabou relevado e perdoado. O que prevaleceu mais uma vez é a tese, já exposta repetidas vezes por notórias figuras da política brasileira, de que o importante mesmo é conquistar a absolvição nas urnas, que se traduz na reeleição para um novo mandato.

Com efeito, tomando-se por base um sem-número de casos de parlamentares flagrados em situações nada republicanas e que à custa dos currais eleitorais e do poder econômico se reelegem indefinidamente, cabe indagar se dá para alterar esse perverso estado de coisas. Sim, é possível promover mudanças nessa realidade, mas para que isso ocorra a última palavra está diretamente com o eleitor; só através do seu voto depositado na urna e do acompanhamento da atuação do parlamentar escolhido será possível depurar os quadros partidários atuais, em boa parte dominados por carreiristas acostumados a fazer do cargo uma plataforma útil para viabilizar suas negociatas. E o eleitor como fica? Bem, este é um mero detalhe lembrado apenas em tempos de eleição...

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