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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva proferiu declarações desmedidas, no que pode ser considerado um dos pontos mais lamentáveis ao qual chegamos na campanha presidencial de segundo turno até agora. Anteontem, Lula acusou o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de mentir no episódio que envolveu o tucano na última quarta-feira, quando foi acertado por um rolo de fita adesiva no calçadão de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro. Na ocasião, um grupo de militantes petistas obstruiu a passagem de Serra, que teve de se refugiar em uma loja, o que criou um tumulto desnecessário.

Nas palavras do presidente: "Venderam o dia inteiro que esse homem tinha sido agredido. Uma mentira mais grave do que a mentira daquele goleiro Rojas, do Chile, que no Maracanã caiu e fingiu que um foguete tinha machucado ele", afirmou Lula na quinta-feira, em uma visita ao Rio Grande do Sul. A declaração de Lula contra o candidato de oposição não combina com alguém que ocupa o mais alto cargo do país. Faltou com respeito não somente com seu opositor, mas com o processo eleitoral. Por vezes, ele es­­quece a responsabilidade que carrega até dia 1.º de janeiro do próximo ano. Prefere pro­­­­tagonizar o papel de cabo-eleitoral de sua candidata, Dilma Rousseff, a todo o momento.

Não é a primeira vez que o Presidente comete um equívoco como esse. Lula já foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral algumas vezes por usar o cargo em eventos do governo federal para fazer campanha para Dilma. Além disso, quando do episódio da quebra de sigilo fiscal de dirigentes tucanos, Lula foi ao programa eleitoral gratuito de televisão para defender Dilma e atacar seus adversários políticos. Naquela vez, como agora, deixou de lado a postura ética e responsável que se espera de um presidente da República, principalmente no atual contexto de sucessão presidencial. Partiu para uma discussão que não lhe pertencia e que está entre os conflitos mais rasteiros desta campanha. De alguma forma, concorda com a opção pela "não discussão", criando polêmicas que não acrescentam.

O cenário eleitoral neste momento é frustrante. As rivalidades partidárias chegaram a um ponto em que militantes assumem seu desprezo pelo posicionamento contrário e tomam atitudes desmedidas, chegando a agredir opositores. Não importa o grau da violência, mas sim o que ela representa. Por menor que seja a agressão, é injustificável que em um Estado Democrático de Direito um candidato que está fazendo campanha eleitoral receba tal tratamento de militantes opositores.

Mesmo que não seja de responsabilidade dos dois candidatos em campanha, de Lula ou dos demais dirigentes partidários, o tom que vem sendo usado nestas eleições está exagerado, sem contribuir em nada com o momento democrático. O resultado, uma onda de raiva e intolerância. Totalmente desnecessário e um retrocesso para nossa política.

É preciso neste momento muita serenidade para que possamos resgatar o espírito democrático, que prevê o debate de ideias e projetos para o Brasil. Política se faz com discussão de ideias. Por essa razão, é necessário mostrar que o Brasil atingiu um nível de cultura política no qual não se permitem mais atitudes como às que estamos assistindo: bate-boca entre as principais lideranças políticas de nosso país, acusações baixas, discussões vazias. Com esse nível de debate, o que sobrará das discussões que realmente interessam ao país – entre elas reformas institucionais – e que foram negligenciadas tanto por tucanos como petistas?

Acabado o processo eleitoral deste ano, muitas posturas adotadas nessa campanha precisarão ser avaliadas. Que esses lamentáveis episódios sirvam de reflexão para os dirigentes dos principais partidos brasileiros sobre o que não se deseja e o que deve ser combatido em uma campanha.

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