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A visita dos líderes da Índia e da África do Sul, para assinatura de acordos de intercâmbio com o Brasil, é um esforço positivo de três países emergentes de largo potencial e que representam três fortes nações democráticas – fator de estabilidade num mundo afetado por crises de insensatez que penalizam até povos desenvolvidos. Porém, mais do que integração comercial, eles têm lições proveitosas ao Brasil.

É que, ao lado da China, a Índia registrou avanço de 7,7% no PIB per capita ao ano durante os últimos dez anos; enquanto a África do Sul conseguiu superar um histórico de crise racial para consolidar o esforço de modernidade que dobrou a renda dos habitantes. O premiê indiano Manmohan Singh, que ocupa o cargo após ter conduzido reformas modernizantes como ministro das Finanças, ampliou a orientação para o mercado sob uma linha moderada que rejeita radicalismos políticos e econômicos.

Assim, mesmo com déficit fiscal elevado para padrões gerais (7,5%), ele mantém programas de redução da pobreza, argumentando que a austeridade fiscal e o crescimento, mais o aproveitamento inteligente das oportunidades, resultarão em mudança sustentada. Thabo Mbeki, na África do Sul, conservou a conciliação pós-apartheid do líder Nelson Mandela, colhendo investimentos que mudaram a face do país.

Enquanto isso o Brasil multiplica regulamentos que impedem a construção de usinas hidrelétricas, abertura de empresas e a consolidação de um parque industrial moderno. As exportações continuam crescendo, mas baseadas em "commodities" de baixo valor agregado e vulneráveis à oscilação dos mercados. Por isso, segundo a Confederação Nacional da Indústria, enquanto entre 1996 e 2005 a economia global cresceu 45,6%, o PIB brasileiro avançou somente 22,4%.

À parte China e Índia, entre nossos vizinhos o Chile cresceu quatro vezes mais do que o PIB do Brasil, e o México, três vezes. Até o Vietnã se reinventou, 25 anos depois da guerra, e virou o "tigre asiático" da vez, reduzindo a pobreza pela metade. Mesmo a Europa acordou, com mais 2,7% de expansão neste ano, ante a média de 1,2% dos anos anteriores.

Enquanto isso, a América Latina pouco aproveitou o melhor cenário da economia mundial nos últimos 30 anos, informa a Comissão Econômica regional das Nações Unidas. No Brasil, por exemplo, repetindo a última década, o PIB do ano deverá fechar em torno de 3,0%, limitado por baixa oferta de energia, infra-estrutura precária e investimento reduzido. Além disso, a elevação do gasto público, sustentada numa carga tributária que cresceu um terço em termos porcentuais apenas na área federal, se contrapõe à alternativa sadia de mais poupança, investimento e mercado.

"Uma sociedade tem o crescimento que deseja", afirma o economista Cláudio Haddad, presidente do IBMEC, e, no caso brasileiro, "a preferência tem sido por mais transferências de renda, consumo e regulamentação". Está na hora de aproveitarmos as lições de indianos e sul-africanos – trabalho firme apoiado em estratégia inteligente – para crescermos rumo a um desenvolvimento sustentado.

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