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O aprendizado é feito de sofrimentos. E foram tantas e tão duras as lições aplicadas nas últimas décadas em razão de sua dependência energética, que o Brasil acabou por se ver forçado a acelerar a busca da auto-suficiência na produção do petróleo e a explorar fontes alternativas, sendo o álcool combustível a mais visível, exemplar e até agora mais importante das iniciativas desencadeadas nesse sentido. Mas a luta ainda não terminou – há outras frentes que precisam ser vencidas.

A história das lições aprendidas é relativamente recente. Nos anos 70, duas agudas crises de preço e de escassez de petróleo provocadas pelas convulsões do Oriente Médio impeliram o país a, pela primeira vez, flexibilizar o até então rígido monopólio da Petrobrás na pesquisa e exploração das reservas. Sob o governo do presidente Ernesto Geisel, empresas estrangeiras foram chamadas a firmar contratos de risco com aquelas finalidades. Graças a isso e em conjunto com a estatal brasileira é que se descobriram grandes jazidas nas bacias de Campos e de Santos, que hoje garantem a nossa auto-suficiência.

Em razão também das mesmas crises e na mesma década nasceu o Proálcool. Extraído da cana-de-açúcar, com quase ilimitado potencial de produção pela agricultura brasileira, o novo combustível chegou a movimentar grande parte da frota nacional de veículos, reduzindo assim, consideravelmente, a demanda por petróleo importado. Atravessamos as crises, o petróleo se tornou mais barato e o Proálcool deixou de ser incentivado.

Hoje, estamos diante de novos cenários críticos, que nos oferecem lições suficientes para que o país continue investindo em fontes alternativas de energia. Um dos cenários foi armado pelo governo do presidente Evo Morales, da Bolívia, que, ao confiscar as instalações da Petrobrás em seu país e romper unilateralmente os contratos de preço, demonstrou o quanto o Brasil estava vulnerável nesse setor – afinal, 50% das necessidades nacionais desse combustível precisaram ser supridas pelo instável vizinho.

Outro cenário é o das cotações internacionais do petróleo, que chegaram à exorbitância de 70 dólares o barril, com poucas possibilidades de redução a curto prazo. A auto-suficiência brasileira é relativa, pois importações de tipos especiais de óleo – mais finos e não encontrados nas nossas reservas – são ainda necessárias para o refino de diesel, combustível cujo preço incide gravemente sobre o custo dos transportes de passageiros e mercadorias.

Se este é um lado negativo para o Brasil, há outro positivo: os países industrializados e altamente dependentes do petróleo buscam a sua substituição urgente, tanto para livrar-se do peso e da instabilidade das importações, quanto para cumprir compromissos internacionais de reduzir seus níveis de poluição ambiental.

Este conjunto de realidades novas é que abre ao Brasil perspectivas que precisam ser aproveitadas. Uma delas é acelerar o aproveitamento do gás natural de nossas próprias reservas, suficientes para nos garantir auto-suficiência também neste segmento. Outra, é incentivar a produção do álcool e do H-bio, combustível patenteado pela Petrobrás obtido de plantas oleaginosas, como a soja, capaz de substituir quase totalmente o diesel.

Além de nos tornar definitivamente livres da dependência do petróleo importado, somaremos duas outras grandes vantagens: abriremos novas frentes de desenvolvimento para a agricultura energética e poderemos nos tornar os maiores exportadores mundiais dos novos combustíveis para os ávidos e ricos países industrializados. Se formos competentes para transformar tudo isso em realidade, daremos mais uma demonstração de que sabemos realmente tirar lições da crise.

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