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A menos que o governo cometa erros graves ou invente crises de outra natureza, sobretudo as crises políticas, a economia que entra em recessão por estouro de bolhas começa a reverter o quadro em algum momento mais adiante, e passa a recuperar o Produto Interno Bruto (PIB) perdido durante os anos de retração. Guardadas as proporções devidas, é o que deverá acontecer com o Brasil a partir do segundo semestre. Acostumado a pegar atalhos e a fugir da correção das distorções, o governo petista optou por disparar um arsenal de medidas destinadas a elevar o consumo, sob o argumento de que isso era necessário para enfrentar a crise financeira mundial iniciada em 2007 e agravada nos anos seguintes.

O presidente Lula dizia que, no Brasil, a crise internacional era uma simples marolinha e jactava-se de ter impedido a recessão. Houve aquecimento de curto prazo, pois, quando as medidas que aumentaram o consumo excessivamente foram implementadas, o setor produtivo estava com bom nível de atividade e o desemprego era baixo, de forma que a explosão do consumo das pessoas ajudou a puxar a demanda agregada para cima e a manter o PIB. A explosão do consumo se deu à custa de compras a crédito e endividamento das famílias em níveis exagerados e perigosos.

A economia não comporta milagres nem saídas fáceis para as crises

Nos anos de Dilma Rousseff, a crise internacional, a queda dos preços das exportações brasileiras, os erros de política econômica e o grande comprometimento da renda pessoal no pagamento de dívidas escancararam o tamanho da encrenca em que o Brasil havia entrado. Juntando tudo com o aumento da inflação e o crescimento do desemprego, a bolha de consumo estourou, a demanda agregada despencou, o setor público entrou em semifalência financeira, a política derreteu na crise da corrupção... e a recessão chegou forte e grave.

Ao entrar 2017, o Brasil deverá ter reduzido o tamanho do PIB anual perto de 10% em relação a 2013, representando forte empobrecimento da população, que cresceu pelo menos 4,8 milhões de habitantes nos últimos três anos. Embora vários fatores estejam na base da crise, o estouro da bolha de consumo das pessoas desempenhou papel preponderante pelas razões já mencionadas. Ainda que o país continue relutando em enfrentar seus graves problemas estruturais – como é caso da crise da previdência, do rombo nas contas públicas e da precarização da infraestrutura física –, a partir do segundo semestre o PIB deverá encetar pequena recuperação e, conforme preveem os analistas do setor financeiro, crescerá em 2017 em torno de 2% em relação a 2016.

Um dos dramas principais do Brasil é a enorme dificuldade de fazer mudanças em áreas nas quais claramente há deficiências estruturais, como é o caso já citado da previdência social do setor privado e do setor público. A correção do gigantesco déficit das contas públicas poderá ser iniciada pelo aumento da arrecadação derivado do crescimento do PIB, desde que os municípios, os estados e a União parem de gastar de forma irresponsável e adotem políticas de austeridade e eficiência gerencial.

O país tem de fazer escolhas: ou opta por fazer as reformas e enfrentar alguns sacrifícios agora ou seguirá cultivando as sementes da próxima crise. Se não consertar os defeitos de sua economia, o resultado será a manutenção da pobreza e a impossibilidade de ver o desenvolvimento econômico e social nas próximas décadas. Entre as várias lições da recessão, uma delas é a de que a economia não comporta milagres nem saídas fáceis para as crises.

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