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Chávez e Lula juntos em Brasília, em dezembro de 2006: apoio ao chavismo rendeu grandes prejuízos para o lado brasileiro desse “affair”.
Chávez e Lula juntos em Brasília, em dezembro de 2006: apoio ao chavismo rendeu grandes prejuízos para o lado brasileiro desse “affair”.| Foto: EFE/Cristina Gallo

“A gente precisa respeitar a autodeterminação dos povos. Cada país cuida do seu nariz.” Foi assim que o ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula se esquivou de uma pergunta feita no Jornal Nacional sobre o apoio petista a ditaduras de esquerda na América Latina – apoio este que é um fato, não apenas uma “acusação de adversários políticos”, como a questão deixou subentendido. Uma mentira dupla, já que Lula e o petismo não perdem uma oportunidade de defender seus companheiros latino-americanos, seja os que já exercem o poder com mão de ferro, seja os que pleiteiam o poder.

Se fosse mesmo fiel ao princípio de que “cada país cuida do seu nariz”, o PT não teria uma verdadeira fábrica de produção de notas de apoio a seus ditadores de estimação. Quando se trata da Venezuela, cada farsa eleitoral realizada pelo ditador Nicolás Maduro rende um comunicado petista parabenizando o bolivariano. Em julho do ano passado, quando cubanos tomaram as ruas de seu país pedindo liberdade e foram violentamente reprimidos, o PT divulgou nota manifestando “apoio e solidariedade incondicionais ao povo e ao governo de Cuba” (mais ao governo que ao povo, obviamente). Quando o ditador Daniel Ortega se proclamou vitorioso em uma recente farsa eleitoral na Nicarágua, o PT voltou a se pronunciar, parabenizando o sandinista – mas a repercussão negativa do texto, que se referia a “uma grande manifestação popular e democrática”, foi tamanha que o partido tirou a nota do ar, o que não impediu Lula de, dias depois, em entrevista, minimizar a ditadura nicaraguense.

Não há como considerar “democrata” ou “moderado” quem apoia de forma tão enfática regimes ditatoriais como o cubano, o venezuelano ou o nicaraguense

Em 2013, Lula gravou vídeos de apoio à candidatura de Xiomara Castro à presidência de Honduras – a esposa de Manuel Zelaya, presidente deposto em 2009, acabou em segundo lugar – e a Maduro, na eleição realizada após a morte de Hugo Chávez. Mais recentemente, o PT emitiu nota oficial de apoio à candidatura do esquerdista chileno Gabriel Boric, no fim do ano passado, com direito a outro vídeo protagonizado por Lula, que também pediu aos colombianos que votassem no ex-guerrilheiro Gustavo Petro. Tanto Boric quanto Petro venceram suas disputas, e já retribuíram o favor declarando apoio ao petista em outubro. Como se pode ver, o petismo tem um conceito muito peculiar para o “cada país cuida do seu nariz”.

Além de mentir sobre a disposição de deixar que cada país cuide do próprio destino, Lula ainda mente quando resume tudo a uma questão de “autodeterminação dos povos”, pois os povos só são capazes de se autodeterminar quando são livres para tal. A verdadeira autodeterminação está nos cubanos que foram às ruas em julho de 2021, nos nicaraguenses que protestam desde 2018 e nos venezuelanos que suportaram enquanto puderam a repressão do regime de Nicolás Maduro, antes que a violência política e a fome os debilitassem. Não há autodeterminação em regimes de partido único, nem em eleições ostensivamente fraudadas e sem reconhecimento da comunidade internacional. Maduro, Ortega e Miguel Díaz-Canel não são ditadores porque o povo assim o quer; eles o são apesar do desejo popular de liberdade.

É inegável que o petismo tem por hábito apoiar incondicionalmente qualquer ditador ideologicamente alinhado com o partido. Este apoio não se dá apenas por palavras, mas também por ações como o programa Mais Médicos, que hoje sabemos não ter passado de um meio de financiar a ditadura cubana sob o pretexto de ajudar brasileiros em áreas carentes de profissionais da saúde; ou o projeto da refinaria Abreu e Lima, uma camaradagem com o chavismo que terminou em calote venezuelano. Nas poucas vezes em que é forçado a reconhecer os arbítrios e a violência cometidas por seus carniceiros de estimação contra os cidadãos de seus países, Lula relativiza, como quando disse que “essas coisas [no caso, a repressão aos protestos de julho de 2021] não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro. A polícia bate em muita gente, é violenta”.

Não há como considerar “democrata” ou “moderado” quem apoia de forma tão enfática regimes ditatoriais como o cubano, o venezuelano ou o nicaraguense. Lula pode se esquivar o quanto quiser, mas seus vídeos e as inúmeras notas oficiais do PT atestam de forma inegável o que ele agora quer esconder sob um discurso falso de “autodeterminação” e “não interferência”. Seu objetivo continua sendo o de alinhar novamente o Brasil ao que há de pior na América Latina, dando o respaldo do maior país do continente para que déspotas continuem oprimindo seus povos.

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