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Os índices econômicos de 2009 fizeram com que muitos brasileiros se ufanassem de seu país, reacendendo a crença na nação do futuro. Não se via nada igual desde os malfadados anos do "milagre econômico", hoje um retrato em sépia do nosso infortúnio. Estamos escaldados. Festeja-se, ergue-se a voz para o hip-hip-hurra, mas depois resta o silêncio, que é para ver o bicho que dá.

Não poucas vozes lúcidas, como a do historiador José Murilo de Carvalho, já chamaram atenção para o ouro de tolo que é crescimento sem ética, pondo para correr a ilusão juvenil que nos persegue, como uma marca de nascença. Demais vozes, a exemplo da de Carvalho, já se arvoram em alardear outro senão nestes tempos de peito varonil: sem projeto de educação que valha, toda riqueza será vã. Bate-se na tecla, feito desmancha-prazeres, para que nada nos impeça de ouvir verdades inconvenientes.

No quesito educação, o que não falta é matéria-prima para debates acalorados. Os que acompanham pela imprensa as informações sobre a situação das escolas fundamentais, médias e superiores no Brasil se deparam com a dureza dos números, batendo em ferro frio. Por vezes, os avanços até nos lambem a ferida, mas não se pode descuidar um minuto. Educação é sinônimo de tempo, persistência e inteligência – jamais se chega a ela ao sabor do vento.

Há muito, com razão, a comemorar. É um triste aquele que não souber fazê-lo. O Brasil tem hoje 97,6% das crianças entre 7 e 14 anos na escola, chegando cada vez mais perto da universalidade do ensino fundamental. Há mais a dizer. A população média urbana atinge 8,5 anos de estudo, contra 4,5 na zona rural, dado que torna as cidades lugares cada vez mais estimulantes do ponto de vista intelectual. E milagrosamente, 70,8% dos pequenos com deficiência estão entre o básico e a oitava série, prova de que foram dados passos largos no campo da inclusão. Hurra!

Como a palavra de ordem é não se dar por satisfeito, assim, tão fácil, o mais recomendável é ficar de olho em que ovos o ministro Fernando Haddad, da Educação, vai pisar em 2010. Assim como Paulo Renato de Souza, nos tempos de FHC, o moço faz boa figura. Nem os vexames em série do Enem arruinaram sua reputação. Mas ainda há situações inaceitáveis no campo do ensino: faz cinco anos que 18% dos brasileiros entre 15 e 17 anos estão fora da escola – um índice que não diminui nem com reza braba, lançando à sorte uma geração de jovens, condenados ao subemprego e sabe-se lá. Eis a ferida.

Depois de ostentar bom desempenho no ensino fundamental, o Ministério da Educação precisa avançar no ensino médio e no combate ao analfabetismo, sempre ele, ao lado da seca e das saúvas. Afirmar essa necessidade tem duplo sentido: o de não se acomodar no balanço dos números e desmontar um esquema mental, à moda brasileira, cujo raciocínio é de que todo o empenho governamental deve estar voltado para as crianças e adolescentes, abandonando outras clientelas, comumente tratadas como caso perdido.

Ledo engano. Os índices provocados pela evasão e pela repetência – essa incompreendida, cultuada pelos autoritários de plantão e desinformados, inclusive na imprensa – são assombrosos o bastante para não deixar ministros e secretários pregarem o olho. Um desses dados, saído de Relatório da Unicef há poucos meses, mostra que a repetência no ensino médio dobrou em uma década, chegando a 12,7% em 2007. Os motivos para tanto fracasso escolar, obviamente seguido de abandono, são aulas desinteressantes, com currículos defasados, professores insatisfeitos e faltosos – para começo de conversa.

Mas, como diz o chavão, parece mesmo que brasileiro não desiste nunca. Estima-se que os jovens tentem retornar até seis vezes às salas de aula, quando, enfim, se mandam para as Ceasas da vida. Não é possível que sejam eles, os insistentes, os únicos responsáveis por esse tour sem sucesso. Os números relativos aos supletivos – no campo da Educação de Jovens e Adultos (EJA) –, idem, repetem essa melodia triste: em pesquisa de três anos atrás, dos 8 milhões de jovens brasileiros que disseram ao IBGE terem cursado um supletivo, 43% desistiram por problemas de compatibilidade entre o horário da escola e do trabalho.

Ora, dá para ouvir o eco de professores e patrões sendo pouco complacentes com os "marmanjos", foragidos da escola antes do tempo e que agora se enroscam para concluir o ensino médio. Definitivamente, o Brasil ainda não é um país irmanado em torno do jovem e da educação. Quem sabe em 2010. Por enquanto é sem hip e sem hurra.

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