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Protesto em Caracas, capital venezuelana, contra os baixos salários e a alta nos preços.
Protesto em Caracas, capital venezuelana, contra os baixos salários e a alta nos preços.| Foto: EFE/Ronald Peña

No momento em que o Brasil realiza eleições estaduais e federais, cujos resultados determinarão os rumos que o país tomará em termos de ideologia e políticas públicas, as notícias sobre o atual momento vivido pelos países latino-americanos são úteis para nortear as avaliações e embasar as escolhas. A eleição de presidente da República e de governadores tem potencial para provocar fortes impactos na gestão da União e dos estados, e dela depende o futuro da economia e do regime político que a nação adotará. A questão é que, dentro do mesmo sistema econômico (o capitalismo) e do mesmo regime político (a democracia), há tantas variações e tantas combinações possíveis de um e de outro que, na prática, há dezenas de formatos institucionais possíveis. Isso faz que nações supostamente regidas pelo mesmo modelo possam ser tão diferentes a ponto de uma prosperar enquanto a outra caminha para o abismo econômico, político e social.

Com a exceção de Cuba, que é declaradamente um regime socialista desde que Fidel Castro assumiu o poder em 1959, quase todos os demais países latino-americanos se declaram democracias e economias de mercado, por mais que seja nítida a existência de ditaduras políticas e graus de estatização e intervenção governamental tão grandes que tornam algumas nações incompatíveis com a denominação de “capitalistas”. A primeira constatação é a nítida incapacidade dos países latinos em conseguir prosperidade material e elevados indicadores sociais; logo, há algo de errado com os regimes políticos e os sistemas econômicos neste continente.

Como condimento sociológico adicional, nos últimos tempos até países com alguma prosperidade e desenvolvimento social começaram a retornar à condição de nações pobres e tumultuadas, como são os casos de Argentina e, em menor grau, do Chile. Ambos já foram nações com bom padrão de desenvolvimento e considerável êxito na redução da pobreza, sendo que a Argentina já foi um dos países mais desenvolvidos do mundo. Porém, agora estão vivendo tempos nervosos, crises políticas, retração econômica, aumento da pobreza, tensões sociais e deterioração geral política e econômica.

O populismo, o socialismo, a ditadura e as promessas de vida fácil são a estrada certa para a manutenção do atraso, da pobreza e do sofrimento

O Brasil tem a chance de examinar o que esses países vêm fazendo de errado a fim de evitar andar pelo mesmo caminho. Diagnósticos econômicos, políticos e sociais sempre comportam vieses e conflitos de interpretação, pois, embora possam ter tratamento científico, não são ciências físicas cujos resultados comportam pouca discordância. O socialismo marxista sempre justificou o endurecimento do regime político e a supressão das liberdades individuais alegando que eram meios necessários para defender o proletariado, eliminar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais, quando o que se tem visto repetidamente é exatamente o empobrecimento e a piora das condições de vida nos regimes socialistas de esquerda.

Entre os vários males que empobrecem as nações e pioram as condições da população está o velho e conhecido populismo, que encontra terreno fértil justamente nas nações pobres. Vale lembrar os estudos elaborados pelo economista norte-americano Nicolás Cachanosky, nos quais ele tratou das quatro etapas do populismo econômico e suas consequências nefastas. Ele afirma que os programas populistas trazem um figurino comum: forte intervenção estatal na economia, incentivo desordenado ao consumo, descaso com os investimentos de longo prazo, excesso de gastos públicos, imprudência fiscal, déficits públicos, endividamento governamental, inflação, desemprego e mais pobreza.

Resumindo a cronologia estabelecida por Cachanosky, no “estágio 1” o populista se elege condenando a pobreza e o sofrimento dos operários e dos pobres em geral, e prometendo medidas assistencialistas e paternalistas. Uma vez implantadas, tais medidas atacam os efeitos dos problemas sociais, porém, sem enfrentar as causas. Em nome de suas políticas, o populista congela preços, estoura os gastos do governo, incha a máquina estatal, cria déficits e manda às favas o equilíbrio das contas públicas. Num primeiro momento, as medidas populistas podem dar a impressão de que vão funcionar, mas em geral a frustração chega em pouco tempo. Nos países da América Latina, esse tipo de realidade tem sido a norma.

A eventual euforia inicial do estágio 1 acaba, e segue-se o “estágio 2”, quando as medidas perdem eficácia e vêm os efeitos deletérios, em forma de desorganização do sistema de preços, crises de abastecimento, aumento da dívida pública, desestímulo aos investimentos, fuga de capitais etc. Em governos populistas é comum que, em vez de abandonarem a demagogia e as medidas ineficazes, os governantes aumentem as doses dos mesmos remédios que já não funcionaram. Mas o populista é sempre especialista em transferir a culpa a terceiros, usando como alvos os culpados de sempre: empresários, especuladores, bancos e os países estrangeiros.

O “estágio 3” chega inevitavelmente pela combinação de recessão, desemprego, inflação e piora da pobreza, ao que se juntam medidas ditatoriais que reduzem as liberdades políticas e econômicas. O resultado é a perda de credibilidade internacional, dificuldades de acesso a financiamentos, crise cambial e estrangulamento das relações econômicas com o resto do mundo. Esses estágios e as sequências que lhes são próprias repetem-se com uma regularidade impressionante e, aqui mesmo na América do Sul, quase todos os países já foram vítimas da mesma realidade em algum momento das últimas décadas. Os exemplos mais contundentes estão registrados na trajetória de Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Nicarágua, México, Bolívia e, também, no Brasil.

O “estágio 4” é aquele em que o governo populista é derrotado e os novos governantes se veem diante da necessidade de enfrentar as distorções e adotar medidas impopulares na tentativa de começar a colocar o país no caminho do trabalho, sacrifício, reconstrução e prosperidade. Infelizmente, o combate às crises traz primeiro os sacrifícios e, somente após algum tempo, os benefícios das políticas acertadas. O histórico da América Latina e principalmente da América do Sul, somado com as ocorrências atuais de alguns países vizinhos, permite perceber que o populismo, o socialismo, a ditadura e as promessas de vida fácil são a estrada certa para a manutenção do atraso, da pobreza e do sofrimento. Em ano de eleição, o Brasil não está apenas escolhendo os governadores, o presidente da República e parlamentares estaduais e federais; o país está escolhendo uma filosofia, um regime de governo e um caminho, entre mais liberdade ou mais opressão.

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