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Sem dúvida, o debate entre Dilma Rous­­seff (PT) e José Serra (PMDB), realizado pela Band na noite de domingo, foi o melhor confronto havido até agora en­­tre candidatos à Presidência da República. Primeiro porque lá estavam somente os dois; segundo porque os temas abordados foram de sua livre escolha; e terceiro, como decorrência, que pela primeira vez os eleitores puderam ter noção mais nítida do que pensam os dois pretendentes ao mais alto cargo da República.

Questões importantes foram discutidas durante o embate televisivo de duas horas, algumas das quais, polêmicas por si, profundamente vinculadas aos sentimentos e às tradições do povo brasileiro. A questão do aborto foi uma delas. A crença em Deus, outra. Corrupção nas altas esferas do poder público, mais uma. Mas fora da seara das convicções éticas, morais e religiosas, tomou vulto também a discussão em torno das privatizações, economia, saúde e segurança.

O confronto foi marcado também pelo tom agressivo empregado por ambos os presidenciáveis, com destaque, neste quesito, para a candidata Dilma Rousseff. Ela visivelmente abandonou a estratégia defensiva que vinha adotando quando provocada, por exemplo, a esclarecer sua opinião a respeito da legalização do aborto, para assumir posições de ataque ao adversário José Serra, a quem acusou de ter agido, quando ministro da Saúde, em favor da facilitação da interrupção das gravidezes não desejadas.

Afora, contudo, os momentos mais candentes – e pouco esclarecedores –, o debate não se aprofundou o suficiente para permitir ao público perceber uma clara diferenciação entre os dois candidatos. O que se viu em grande parte do tempo foi a confluência de ideias, que variavam ora sobre a paternidade dos feitos, ora sobre a intensidade dos seus compromissos.

Compararam-se governos passados – o de Fernando Henrique Cardoso, do qual Serra foi ministro do Planejamento e da Saúde; e de Lula, que teve Dilma Rousseff como ministra também em duas posições, Minas e Energia e Casa Civil. Qual deles construiu mais casas que o outro? Quem privatizou mais? Quem fez mais aeroportos ou quem conservou menos as estradas? Quem deixou de aparelhar os portos ou produziu mais remédios genéricos? Quem criou o Bolsa Família? E assim sucessivamente, sem que tais temas sejam suficientes para oferecer aos eleitores noção mais precisa sobre as perspectivas que podem oferecer ao país caso eleitos.

De fato, salvo pela promessa de continuidade ou de intensificação de programas que são comuns a ambos, nem Dilma Rousseff nem José Serra mencionaram com a profundidade necessária questões tão relevantes e ideologicamente definidoras do projeto de país que defendem. Por exemplo, passou ao largo a questão do controle dos meios de comunicação social; sua visão sobre as reformas estruturais de que o país precisa como a política, a tributária e a trabalhista. Não foram abordadas as relações internacionais e pouco se falou – além de críticas recíprocas – a respeito de planos para a recuperação, expansão e modernização da infraestutura nacional.

Felizmente, o debate da Band não foi o último desta etapa final de campanha. Outros ainda se darão em outras redes de televisão. Por isso, acalentemos a esperança de assistir a menos agressividade, menos comparações com o passado e mais propostas e mais clareza quanto ao futuro que cada um dos candidatos pode oferecer ao Brasil e ao seu povo.

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