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A dimensão e a importância que o cristianismo assumiu ao longo da História transformaram a celebração do nascimento de Jesus em uma festa universal. Com o correr dos séculos, até em função dessa universalização e secularização da sociedade, as características primeiras do Natal foram se perdendo. Essa perda da identidade primeira é outra verdade que não requer sofismas ou digressões. Está aí, impôs-se.

Bem fora do universo teológico, a festa de apelo único, no simbolismo de sua mensagem de paz e bem, cativou e cativa povos até não cristãos. Nesse caso, tome-se como exemplo o Japão, onde as árvores de Natal, os papais noéis e mesmo presépios compõem a paisagem local onde o cristianismo é absolutamente minoritário. É uma prova clara de que o rito festivo anda independente do espírito religioso subjacente.

A constatação das novas feições do Natal apenas fortalece a inexorabilidade da História: afinal, por que a chamada festa de luzes haveria, do ponto de vista meramente humano, de conservar, na sociedade abrangente, seus traços místicos?

Assim, o que temos é o Natal andando célere dentro de uma atmosfera predominantemente mercantilista, secularizada, muitas vezes embalado pelo hedonismo puro.

Se bem que as celebrações seculares, quando têm a família como centro, com as trocas de presentes e o envio de mensagens natalinas, guardam ainda algum sinal de permanência da celebração de paz na Terra – mesmo com a corrida às compras.

Porém é preciso que haja uma reflexão mais profunda da data por aqueles que procuram uma sociedade mais justa e fraterna, a proposta do Natal.

É comum falar do chamado "resgate" do espírito natalino nesse período. Até a ambientação e a atmosfera deste tempo (Advento) garantem um discurso empolgado, como se resgatar um propósito celebrado pela primeira vez há dois milênios fosse tarefa para poucos dias. Até porque a perda de substância da festa foi um longo processo histórico, arrastando-se por séculos, em que foram prevalecendo postulados sobretudo antinatalinos.

Sem pessimismos, mas enfrentando a realidade da falta de compromisso do homem e da mulher modernos com o Natal, há de se clamar, mesmo que em aparente deserto, para reflexões essenciais que a grande festa sugere. Uma delas é a de que este é um momento de repartir bonanças, de transformar o que sobeja na mesa dos afortunados à ceia dos que nada têm. Mas tem de ser um dividir fecundo, com feições duradouras e capazes de refletir na sociedade toda, o ano todo.

Assim, bem mais do que a distribuição de alimentos, roupas ou brinquedos para populações carentes – e o país tem 30 milhões de pobres absolutos – a festa do Menino sugere mudança de propósitos. A mais eloquente dessas mudanças pode ocorrer a partir do mundo imediato de cada um com a construção de pontes de entendimentos expressas no diálogo preventivo a qualquer beligerância.

Uma sociedade sem rugas é utopia, impossível de existir. No entanto, o espírito do Natal pode ser a grande alavanca para o entendimento do homem consigo mesmo, o que, por fim, resultará, não num paraíso terrestre, mas significará a construção de tempos novos, em que se diminuirão sobremaneira as grandes distâncias sociais com o império de políticas públicas (e governos) inspirados no conteúdo da mensagem natalina.

Pessoas e povos que adotarem a autêntica pedagogia do Natal, cristãos e não cristãos serão construtores e herdeiros, ao mesmo tempo, de um mundo melhor. Essa é a síntese da instigante mensagem natalina.

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