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O “exército” está de volta
| Foto: Divulgação / MST

“Eu quero paz e democracia, mas, se eles não querem, nós sabemos brigar também. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele do nosso lado”, disse Lula em fevereiro de 2015 durante evento na Associação Brasileira de Imprensa que também contava com a presença de João Pedro Stédile, chefão do MST. A parte sobre “paz e democracia”, todos sabemos, era mentira – até porque naquele exato momento militantes petistas espancavam manifestantes, incluindo funcionários da Petrobras, que protestavam pacificamente do lado de fora da ABI contra o saque da estatal promovido pelo PT e que vinha sendo escancarado pela Operação Lava Jato. Mas a parte do “exército de Stédile”, essa, sim, era bastante verdadeira. E quem duvidaria do retorno das “tropas” assim que Lula subisse a rampa para seu terceiro mandato, após um período de relativa paz no campo? Pois elas estão de volta, fazendo o que sabem fazer de melhor: destruir e violar a lei contando com a omissão cúmplice de governos de esquerda.

No fim de fevereiro, os sem-terra invadiram três fazendas da Suzano localizadas nos municípios baianos de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas – o estado é governado pelo PT desde 2007. As terras estão muito longe de serem improdutivas: são usadas para o cultivo de eucaliptos, matéria prima para a produção de papel e celulose. Entre as justificativas para a invasão, o MST não teve o menor pudor de incluir o fato de as terras serem usadas em uma monocultura, como se estivesse dizendo que a ação seria legítima porque “ninguém come papel” – só faltou explicar isso para as 27 mil pessoas que tiram seu sustento da atividade: 7 mil empregos diretos e outros 20 mil indiretos, criados graças à presença da Suzano na área.

Não há absolutamente nada no discurso petista que nos permita acreditar que o MST será contido ao longo dos próximos quatro anos

O caráter criminoso da invasão é tão evidente que não deveria haver outra resposta a não ser a reintegração de posse imediata e a condenação imediata do ato por parte das autoridades. Lula, no entanto, está calado. Já o ministro do Desenvolvimento Agrário (pasta criada por Lula, em um desmembramento do Ministério da Agricultura), Paulo Teixeira, parece acreditar que apenas com boas maneiras será capaz de conter o “exército”: “liguei para o MST e pedi para que saia de lá”, disse, acrescentando que “vamos tentar resolver pelo diálogo”, como se as duas partes envolvidas fossem moralmente equivalentes. Evidentemente ninguém deseja um massacre de sem-terra em uma reintegração de posse, mas é preciso deixar muito claro que o MST é o agressor e a Suzano, a vítima; e que o direito de propriedade, garantido no caput do artigo 5.º da Constituição, foi violado. Não há como colocar no mesmo plano invasores e invadidos.

Mas tal condescendência, como aliás quase tudo que ronda este início de novo governo Lula, não surpreende, pois repete o padrão histórico do petismo. Se em fevereiro de 2014, depois de 15 mil sem-terra tentarem invadir o Supremo (forçando até a interrupção de uma sessão) e o Planalto, ferindo dezenas de policiais, o MST foi premiado com um encontro com a então presidente Dilma Rousseff, quem imaginaria que agora seria diferente? MST e PT têm uma ligação íntima, que está acima de eventuais críticas como a feita recentemente pelo coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, sobre a demora para a indicação do novo presidente do Incra. Os sem-terra, claro, queriam a chave do órgão para reverter a orientação dada a ele durante a gestão Jair Bolsonaro. Entre 2019 e 2022, foram entregues mais títulos definitivos de propriedade que nos 14 anos da primeira passagem pelo petismo no poder. Essa modalidade liberta o agricultor de sua dependência do MST; o movimento prefere um outro tipo de instrumento, pelo qual a terra segue pertencendo ao Estado, mas pode ser explorada pelos assentados, sob a “administração” do MST. Em uma demonstração de que os sem-terra não passam de massa de manobra, líderes do MST e políticos aliados chegavam a recomendar que as pessoas não aceitassem os títulos que fariam delas donas de um pedaço de terra.

O agronegócio, locomotiva da economia nacional, tem todos os motivos para estar preocupado. O ódio que o petismo tem pelo setor é notório, a ponto de o ainda candidato Lula, mesmo empenhado na construção de uma imagem de equilíbrio, ter se referido a parte dos empresários do ramo como “fascistas” em plena sabatina do Jornal Nacional. Não há absolutamente nada no discurso petista que nos permita acreditar que o MST será contido ao longo dos próximos quatro anos. O recrudescimento dos conflitos infelizmente deve se tornar a tônica no campo, sob o olhar complacente dos que se venderam como “moderados” e “democratas” na eleição, uma lorota que, tragicamente, foi comprada por boa parte dos brasileiros.

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