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Instituído em 1945 com a pretensão de garantir o funcionamento adequado do sistema financeiro mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi marcado nesses mais de 60 anos por decisões importantes na resolução de crises e também por erros graves, que comprometeram muitos países.

Na última década, os 187 integrantes do Fundo aprofundaram um longo debate e chegaram à conclusão de que não se poderia mais adiar uma reforma na instituição. O crescimento dos emergentes e a crise financeira de 2008 forçaram a revisão das cotas e do poder de voto de seus membros.

Com a mudança, o Brasil chegou ao 10.º posto em relação aos países de mais influência no Fundo. A China vai superar países como a Alemanha, França e Reino Unido, saltando para o terceiro lugar, atrás apenas de Japão e Estados Unidos. A Índia ficará em 8.º lugar e a Rússia em 9.º.

Essa reformulação no poder de voto, que ainda não está em vigor –as mudanças só serão concluídas no final de 2012 e reavaliadas em 2013–, demonstra um avanço para tornar o FMI mais equilibrado nas suas decisões, mas é muito tímida. Uma configuração do Fundo que represente a realidade do mundo atual precisa vir acompanhada de uma nova postura da instituição e de democratização no seu comando.

A queda de forma escandalosa do francês Dominique Strauss-Kahn – acusado de abuso sexual por uma camareira de hotel – do comando da instituição abre a possibilidade para mudanças na correlação de forças internas desse órgão crucial para a economia mundial. O Fundo, desde sua criação, sempre foi dirigido por europeus. Permanece o arranjo feito no pós-Guerra, pelo qual um europeu é designado para chefiar o FMI, enquanto os Estados Unidos nomeiam o presidente do Banco Mundial.

Representantes do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte) defendem que as lideranças de todas as instituições financeiras internacionais devem ser escolhidas de forma aberta, transparente. Essa forma não descarta a nomeação de um europeu para o cargo de diretor-gerente do FMI, mas tampouco combina com a suposição de que sairão da Europa os próximos chefes da instituição.

Desde a prisão de Strauss-Kahn, cogita-se que o nome do novo diretor-gerente do FMI seja decidido na reunião do G8 – grupo formado por EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia – marcada para quinta e sexta-feira desta semana. Com isso, os emergentes estariam fora do páreo.

Não menos importante que a escolha do novo chefe do Fundo são os rumos que a instituição deve tomar daqui para frente. O FMI não pode repetir erros como os ocorridos em décadas anteriores, quando muitas das receitas e das diretrizes da instituição levaram um grande número de países da América Latina – principalmente a Argentina – ao colapso econômico. O resultado foram anos de recessão, arrocho aos menos favorecidos e aumento da miséria.

O novo diretor-gerente do FMI terá enormes desafios pela frente. Vários países da Europa, a exemplo de Portugal, Grécia e Espanha, atravessam um momento delicado. Há ainda a ameaça do monstro da inflação, que, depois de anos adormecido, está de volta em países em desenvolvimento.

Quando foi instituído, o FMI buscava evitar a repetição do caos econômico que resultou da Grande Depressão, no final da década de 20. Entre seus compromissos, deveria prover recursos aos países para corrigir desajustes em sua balança de pagamento sem recorrer a medidas destrutivas à prosperidade nacional. As crises subsequentes mostraram que esse objetivo não foi atingido. Está na hora de reorientar seus rumos.

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