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A presidente Dilma Rousseff entra no terceiro mês à frente dos destinos do país revelando – ainda que se reconheça ser muito cedo para uma avaliação definitiva – sensíveis diferenças de estilo e substância em relação ao seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. No estilo de governar, saiu de cena o falastrão e populista que fazia e acontecia sem medir à altura as consequências das palavras e ascendeu ao poder a chefe de Estado de gestos contidos e pouca exposição pública. Mas é mesmo na substância que parece estar a diferença mais relevante entre Dilma e Lula, mostrando que o Brasil pode estar dando uma guinada no rumo seguido nos últimos oito anos.

Um exemplo auspicioso a prenunciar, até agora, esse novo horizonte está na política internacional, onde a diplomacia lulista, capitaneada pelo ex-ministro Celso Amorim, cede lugar a posturas mais firmes contra países ditatoriais, ou com democracias de fachada. A ânsia desmedida por um protagonismo relevante para o Brasil fez com que o governo anterior de um lado adotasse posturas questionáveis e por outro apoiassem incondicionalmente parceiros problemáticos na comunidade internacional.

Recorde-se a posição brasileira de total omissão com relação à violação dos direitos humanos no Irã, em Cuba e na Venezuela, hoje contrastando flagrantemente com algumas manifestações do atual governo. A começar pela própria Dilma, que sem meias palavras criticou o regime dos aiatolás por pretender executar por apedrejamento Sakineh Ashtiani, condenada por supostamente tramar a morte do marido. A mudança de postura teve novo desdobramento explícito na semana passada, no Conselho de Segurança da ONU. Naquela Corte Internacional, o Brasil condenou a violência que vem sendo praticada pelo regime do ditador Muamar Kadafi contra a população da Líbia, que cobra a sua saída do poder. É de se duvidar que tal postura fosse tomada ao tempo do companheiro Lula, que nunca escondeu a sua admiração pelo velho ditador, a ponto de chamá-lo de "meu amigo" e "meu mestre", em visita a Trípoli, em 2003.

Outra medida que chama a atenção é a agora manifestada intenção brasileira de apoiar a resolução apresentada contra o Irã no Conselho de Direitos Humanos da ONU. A nova orientação diplomática brasileira, no entanto, revela preocupação com a violação dos direitos humanos não em um país específico, mas em todos. Foi o que deixou claro a ministra de Direitos Humanos do Brasil, Maria do Rosário, ao fazer pronunciamento na segunda-feira, durante sessão na ONU, em Genebra. No seu discurso, Rosário também criticou a postura adotada durante anos a fio por norte-americanos e europeus de apoiarem dissimuladamente ditaduras politicamente convenientes. Essa posição mostra que é possível o estabelecimento de um novo patamar nas relações do Brasil no contexto internacional, sem sectarismos ou posições unilaterais.

Nesse sentido, é de se esperar que esses primeiros passos da política internacional do governo Dilma Rousseff sejam efetivamente um divisor de águas. Que sinalizem para o resgate do verdadeiro papel do Itamaraty no contexto do cenário internacional.

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