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Com licença ao presidente da República, nunca se soube tanto sobre educação no Brasil como agora. Obra e mérito das avaliações educacionais – Saeb, Enade, Enem, Provão e Prova Brasil. A cada estação, essas madurezas movimentam o território nacional, fazem palpitar os corações de estudante mais do que os vestibulares e embebedam a nação com índices até então só desconfiados, nunca comprovados.

Sempre se disse – em conversa de comadres e de botecos – que o país não foi para frente porque não investiu em educação. Deve ter sido a frase mais repetida em discursos de formatura e em palanques políticos. Nem os jesuítas do Brasil Colônia se safam dos desaforos. Agora, graças aos resultados das provinhas e provões, se tem certeza numérica da enroscada em que nos metemos nesse Mundo Novo de meu Deus.

Resta saber o que fazer com essa caçamba de informações que desembarcou no condomínio. Sermões inflamados ou medidas da hora? Mas eis que a voz embarga. A sensação de imobilidade diante de tantos dados, aliás, é um dos efeitos colaterais provocados pela sociedade tecnocrata – tão afeita a tabelas, cruzamento estatístico, e embananada na hora de explicar as causas secretas que movem o mundo. Mas desesperar, jamais. O momento, convenhamos, é animado o bastante, o que pode ser comprovado nos bate-bocas homéricos que desde o ano passado rompem a pasmaceira do setor educacional, demonstrando que a hora da virada educacional é agora.

Ora é a secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, manifestando o desejo de fechar as faculdades de Pedagogia, ora é o blá-blá-blá que historicamente transforma a educação mais numa questão de ego do que em questão de estado. Entre um round e outro, brota mais uma avaliação culpabilizando o professor – o vilão inconteste dos fracassos escolares. Os temas paralelos nesse ringue não são menos empolgantes: ou se fala dos investimentos miseráveis destinados à escola ou se trata da aplicação da meritocracia a qualquer preço, passando o rolo compressor na mais delicada das relações – o ensino.

O perigo diante de tal estado de ânimos, sabe-se, é deixar correr mais um ano nessa lengalenga, sem tirar proveito de tudo o que se sabe de uns tempos para cá. Para não chegar a tanto, há um mal de raiz a ser combatido. Embora inteligente e respeitado – basta pensar nos nossos magistrais teóricos da educação – o setor de ensino no Brasil tende à verborragia. Basta um estalo de dedos e, pronto, transforma-se no falastrão da biblioteca.

Todos esses senões são para dizer que tem remédio para a educação – o que se sabe de cor e salteado. Que se uma criança fica exposta quatro anos a aulas de Matemática e Português, mas não aprende nem a ler nem a fazer as operações básicas, é porque falta objetividade nos programas de ensino. Dizer isso não implica em jogar no lixo toda a maravilhosa literatura pedagógica acumulada na terra de Paulo Freire, nem em atropelar processos ou ferir os princípios democráticos que regem a educação, mas em apertar o passo, que já são horas.

Qualquer dúvida, é só recorrer à estarrecedora Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada no segundo semestre do ano passado. Consta lá que 84,5% das crianças de 8 a 14 anos que não sabem ler estão na escola, o equivalente a oito entre dez pequenos que não dominam o bê-á-bá. A tragédia é maior no Nordeste, é fato, mas não exime de culpa outras paragens. Há nessa história toda uma verdade tão brasileira quanto o verde de nossas matas: nosso ensino fundamental é frágil, um cristal. Todo cuidado é pouco – é assim que se faz um país.

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