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Em seu comício em Ciudad Guayana, na Venezuela, ao lado de Hugo Chávez, anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se limitou à gafe de chamar os venezuelanos de bolivianos. Foi além. Criticou os banqueiros, a elite e, é claro, a imprensa.

E, embora tenha afirmado que não daria "palpite" em questões internas do país vizinho, não resistiu. Na inauguração da segunda ponte sobre o Rio Orinoco, fez campanha aberta e com declaração de voto em favor de seu colega Chávez. Tratando-o como já reeleito, comparou-se a ele – que também seria vítima de "preconceito" e de "incompreensões" –, saudando o que seria o nascente cordão de frente de governantes alinhados e únicos fiadores das causas populares na América Latina. Tal grupo teria mais um aliado a caminho, o sandinista Daniel Ortega, que se prepara para voltar ao poder na Nicarágua após 16 anos.

O presidente brasileiro disse ainda que em seu segundo mandato vai atuar com "mais força" e muito "mais ousadia" para consolidar a integração dos países da América Latina. Sobre a imprensa, forçou uma comparação: o comportamento da mídia venezuelana em relação ao governo e o que ocorre no Brasil entre os veículos de comunicação e o Poder Central.

A propósito de mais essa destemperança presidencial, o jornalista Alberto Dines, que dispensa qualquer apresentação, lembrava ontem que o governo esquece a República e investe contra a imprensa. O titular do Observatório da Imprensa, ao comentar o alegado "complô da mídia" contra Lula, afirma que o presidente "confirmou plenamente as hipóteses de que, para continuar engabelando a sociedade brasileira, será indispensável desacreditar a imprensa, intimidá-la permanentemente e, assim, impedir que assuma um papel efetivamente esclarecedor e moderador". Ou por outra, conforme Dines, a imprensa "deve ser encostada na parede desde já", antes que se confirme "o pífio crescimento do PIB e antes que os afiados facões dos tecnocratas comecem a cortar os gastos públicos".

Assim, mais do que tertúlias em torno de um fast-food ideológico à beira do Orinoco, o que se esboça é a grave tentativa de engessar a imprensa e, caminho livre da vigilância da sociedade, eliminar o pluralismo. E, com ele, a transparência e os mecanismos que oxigenam diariamente a democracia e a República. Esta, aliás, às vésperas do seu 117.º aniversário.

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