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Tanto quanto enigmas, 2006 nos reserva também certezas. Entre as certezas, a de que este será um ano dominado pela mais intensa atividade política. Teremos eleições para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais; as campanhas estarão contaminadas pelo clima tenso da crise sem precedentes deflagrada no ano que passou. Entre os enigmas, o resultado que emergirá das urnas e o quanto tudo isso influenciará no processo de consolidação definitiva das instituições democráticas e das bases do desenvolvimento brasileiro.

De fato, o cenário que se avizinha tende a se construir em torno do aguerrimento que marcou as relações entre governo e oposição ao longo do ano passado. O extraordinário magote de denúncias de desvios éticos constatados na atividade política e administrativa vai marcar o clima eleitoral. O povo será chamado, infelizmente, a decidir-se não pelos que considerará puros e aptos para dirigir o país, mas entre os menos chamuscados pelo caudal inesgotável de delitos e irregularidades que manchou a praticamente todos. E tudo isso se dará sob a égide de uma legislação eleitoral caduca e permissiva – a mesma que presidiu as eleições anteriores e que é apontada como a caixa de Pandora da qual emergiram todos os vícios – do mensalão, dos "recursos não contabilizados", da subtração dolosa de dinheiros públicos...

A esperança que nunca morre e que é sempre renovada a cada início de ano só brilhará com intensidade se, contrariando todas as expectativas, o brasileiro verificar a existência de algum esforço real e efetivo para sepultar a impunidade que protege a delinqüência mais notória e se, de fato, empenharem-se os governantes e os políticos em geral na tarefa de fazer, com responsabilidade, o que o país deles espera.

Por exemplo: a despeito da conturbação natural dos períodos de campanha eleitoral, será motivo de remissão parcial de seus pecados se o Congresso não deixar de votar, a tempo e a hora, matérias importantes que dependem de sua aprovação. Há, além do Orçamento da União para 2006, projetos que deixaram de ser examinados no ano que passou, dentre os quais a mudança radical da legislação eleitoral, alguns pontos da reforma tributária e a integralidade das reformas sindical e trabalhista. E, é óbvio, se as CPIs encerrarem seus trabalhos com conclusões claras e incriminadoras o suficiente para que a Justiça, enfim, puna os apontados como autores de irregularidades.

No âmbito da economia, espera-se que o enigma lançado pelos que querem, com afã eleitoral, abrir a cornucópia do dinheiro público seja contido pela certeza dos que sabem que o comedimento nos gastos é a melhor alternativa para garantir desenvolvimento seguro e de longo prazo.

Enfim, estamos diante de 2006 como se fosse ele uma verdadeira esfinge. Difícil, aos comuns mortais, decifrá-la. Mas é indispensável que os políticos o façam, pois é ainda neles, feitas todas os enigmas que inspiram, que repousa a esperança. O resto é só certeza: o povo brasileiro, trabalhador, produtivo e honesto, fará a sua parte para que tenhamos um feliz 2006.

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