• Carregando...

A mensagem do Papa Bento XVI na celebração do ano-novo, pedindo empenho das pessoas, nações e organizações internacionais pela efetivação da paz, foi o reconhecimento de que só um ambiente de respeito mútuo pode levar a soluções não conflitivas dos problemas, sendo esse o requisito básico para a humanidade evoluir no rumo de um mundo melhor. A convocação do chefe da Igreja Católica ajusta-se a uma conjuntura internacional que começa com desafios à convivência pacífica entre os membros da sociedade humana.

Assim, ao prolongado conflito do Oriente Médio – opondo ocidentais e povos islâmicos – somam-se manifestações de intolerância na Indonésia onde cristãos são vitimados por hostilidades da comunidade muçulmana, à crise de etnias internas no Sudão que transborda para os países vizinhos do Norte da África e às evidências de uma tensão crescente entre Japão e China. Com isso os japoneses estão sendo levados a reformar seu "status" de nação desmilitarizada herdado da 2.ª Guerra Mundial.

Porém o pior risco para a ordem internacional ocorre, no momento, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tendo como pólo visível a disputa em torno do preço do gás natural fornecido pelos russos aos ucranianos. A ameaça de cortes seletivos nos suprimentos dessa fonte de energia, além de expor o povo ucraniano a uma situação difícil em pleno inverno do Hemisfério Norte, ainda contamina nações européias vizinhas.

No cenário geral ainda, retornam as turbulências de jovens excluídos da periferia das metrópoles francesas, demonstrando que a brasa da insatisfação prossegue acesa sob as cinzas de uma aparência de normalidade. Os problemas da França com os seus filhos de imigrantes de ex-colônias são a ponta do "iceberg" de uma questão mais estrutural: a maneira como os povos europeus vão se ajustar ao cenário de uma globalização que avança de forma niveladora, corroendo vantagens artificiais desfrutadas por nações maduras, sob a pressão de novos atores que aspiram seu lugar no banquete da prosperidade.

No fundo a alteração de paradigmas pela onda avassaladora da globalização afeta a todas as nações, mesmo as que se situam na vanguarda contemporânea como os Estados Unidos. O governo do presidente Bush, a propósito, tem encontrado maiores dificuldades para lidar com os desafios da era contemporânea do que seu antecessor, Bill Clinton. Ao eleger Bush há cinco anos, o povo norte-americano buscava o conforto de certezas assentes, mas o desenrolar dos acontecimentos, sobretudo a partir dos atentados terroristas de 2001, desencadeou um vendaval de turbulências que deixou para trás a fase de normalidade desfrutada na administração anterior.

Não obstante tenha se beneficiado de um ciclo favorável, a América Latina não ficou imune a essas tensões, que já condicionam as eleições regionais, como se viu na Bolívia e que, por certo, influirão nas opções do povo brasileiro neste ano. Por isso, para reduzir o potencial de conflito dos embates que começam após o recesso da passagem do ano, tenhamos presente a exortação do Papa – caminhando na linha da justiça, da solidariedade e da paz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]