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Moeda digital do BC
Sede do Banco Central, em Brasília.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Mesmo com a persistência do choque inflacionário e o IPCA acumulado nos últimos 12 meses estar já na casa dos 8%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cumpriu a previsão que tinha feito ao fim de sua reunião de maio: elevou a Selic em 0,75 ponto porcentual na reunião encerrada na última quarta-feira, dia 16, deixando a taxa básica de juros em 4,25% ao ano. Nenhum dos integrantes do comitê viu necessidade de elevações mais drásticas logo de imediato, mas o comunicado deixa claro que haverá novas elevações dos juros em breve, e eles poderão, sim, ser maiores que o anunciado previamente.

As esperanças de que o IPCA de 2021 volte para um limite aceitável dentro do estabelecido pelo regime de metas de inflação parecem ter acabado de vez. A meta é de 3,75%, com 1,5 ponto de tolerância para cima ou para baixo, mas o Copom agora trabalha com uma projeção de 5,8% para o IPCA deste ano, contra 5,5% ao fim da reunião de maio. No mesmo cenário, a Selic terminaria o ano em 6,25%, encerrando esta breve era de “juros negativos”, em que a Selic ficou abaixo da inflação. E mesmo em 2022, quando a projeção de inflação converge para a meta de 3,5%, o cenário básico com que trabalha o Copom prevê estabilidade na Selic, que terminaria o próximo ano em 6,5%.

Os membros do comitê também demonstraram preocupação em não frear a retomada da economia brasileira

Entre os elementos que devem continuar pressionando a inflação, o Copom aponta a perigosa situação da crise hídrica e seus efeitos sobre os preços de energia elétrica – em junho, começou a vigorar a bandeira tarifária “vermelha 2”, a mais cara de todas. Luz mais cara provoca enorme efeito inflacionário, pois é gasto que acaba transferido para os preços de inúmeros outros produtos e serviços. Além disso, o comitê ressalta o perigo de se manter dúvidas sobre o compromisso brasileiro com o ajuste fiscal – seja por meio de gastos maiores, incluindo os programas temporários de resposta à pandemia, seja pela hesitação na realização das reformas macroeconômicas, como a tributária e a administrativa. Na outra ponta, o Copom avalia que um recuo nos preços internacionais das commodities ajudaria a reduzir a inflação para patamares até inferiores ao cenário básico.

Repetindo palavreado do comunicado anterior, o Copom ainda afirmou que “sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão [a elevação da Selic para 4,25%] também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”. A frase indica que os membros do comitê estão preocupados em não frear a retomada da economia brasileira, já que, “apesar da intensidade da segunda onda da pandemia, os indicadores recentes continuam mostrando evolução mais positiva do que o esperado, implicando revisões relevantes nas projeções de crescimento” e “os riscos para a recuperação econômica reduziram-se significativamente”. Elevações mais drásticas da Selic poderiam interromper essa trajetória, com reflexos nos ainda muito alarmantes índices de desemprego.

O Copom volta a se reunir no início de agosto, quando já será conhecido o estrago causado pelo degrau tarifário mais rigoroso na energia elétrica, entre outros fatores que podem seguir pressionando o IPCA. A promessa é de nova elevação de 0,75 ponto, mas “uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários”, segundo o comunicado. A experiência brasileira mostra que a inflação é um monstro difícil de ser domado quando escapa da jaula, punindo especialmente os mais pobres, que veem destruído seu já escasso poder de compra e não têm como se proteger da alta dos preços. Mantê-la sob controle é imprescindível.

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