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A decisão da Argentina de rejeitar acordo sobre comércio exterior proposto pela Organização Mundial de Comércio (OMC), bem como a posição indecisa da Índia sobre o mesmo tema, enfraqueceram a possibilidade de sucesso da Rodada Doha, que tem prazo até julho para obter um novo ciclo de liberalização econômica. Tais registros de última hora mostram a dificuldade que, em nosso caso particular, o Brasil enfrenta na conjuntura internacional; preso ao dilema de aceitar convite para se alinhar com o clube dos ricos ou continuar atuando como porta-voz das nações em desenvolvimento.

Há duas semanas o presidente Lula participou da reunião de cúpula do G-8, o grupo dos países mais industrializados e a Rússia, realizada na Alemanha. Nesse encontro o Brasil integrou o G-5 – grupo dos países emergentes de maior escala – ao lado da China, Índia, África do Sul e México. Embora não sendo integrantes plenos do consórcio, os países em desenvolvimento de escala não podem ser ignorados; tanto que a anfitriã do evento - a primeira-ministra da Alemanha Ângela Merkel – assegurou o "status" especial do grupo, para discussão de temas que vão além da economia: meio ambiente, alternativas de energia, estabilização internacional e outros.

É que a era atual, seguindo-se à Guerra Fria que caracterizou o último meio século, revela múltiplas possibilidades de arranjos do poder global. Ela supera a lógica das Nações Unidas, cuja assembléia geral de mais de 120 membros desfavorece acordos de profundidade, enquanto o Conselho de Segurança de cinco membros permanentes é pouco representativo. De igual forma a Organização Mundial de Comércio, exigindo decisões por consenso, tem baixa funcionalidade – comprovada no impasse da atual rodada de liberalização comercial.

Restam instâncias por enquanto informais, porém dotadas de grande potencial, como o antigo G-7, grupo dos sete países mais industrializados (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão), ao qual se juntou a Rússia – mais por peso geopolítico como herdeira do arsenal da ex-União Soviética. Porém, como observou o ex-ministro brasileiro Rubens Ricúpero, mesmo esse grupamento de nações é insuficientemente representativo por se concentrar na Europa e, de certo modo, no mundo atlântico. A esta altura nenhuma tratativa séria de alcance mundial pode ignorar o crescente papel da China e da Índia na Ásia, ou da África do Sul no continente africano e do Brasil e do México no espaço latino-americano.

Por isso o G-8 não apenas convidou os membros do bloco dos emergentes como designou uma unidade especial de apoio técnico na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico para coordenar a agenda dessa aproximação. Mas o Brasil, preocupado em se manter como porta-voz do mundo em desenvolvimento, hesita em se juntar tanto à OCDE quanto ao novo "Grupo dos 13" (ricos e emergentes representativos), num dilema que deve ser resolvido, porque uma boa posição na arquitetura global é o passaporte para o desenvolvimento.

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